Upload 2002 consagra Los Hermanos e Cachorro Grande
“Tem que ter um som legal, gente legal e cerveja barata” (Júpiter Maçã)
Os versos do gaúcho se encaixam perfeitamente na descrição da segunda edição do festival Upload, realizado no Sesc Pompéia, São Paulo (SP), de 5 a 7 de dezembro.
Durante três noites, famosos e incógnitos subiram no palco da Choperia do Sesc para fazer feliz centenas de roqueiros.
Atrações à parte, havia também quitutes finos, que dão forma e cor às lembranças do festival. Camisetas e CDs, devidamente licenciados, eram vendidos a preços piráticos; barraquinhas de gravadoras independentes deixavam a par qualquer um que quisesse conhecer as novidades musicais do underground brasileiro e internacional.
Primeiro dia, quinta-feira, 05/12
A dança dos instrumentos começou com Los Pirata. Atacando de portunhol e surf music, o trio fez uma apresentação rápida em todos sentidos. A bateria de pequena dimensão possibilita aos três integrantes ficarem alinhados em frente ao palco. O público ainda rarefeito manteve distância, mas aplaudiu sempre.
Objeto Amarelo tocou alto. O vocalista e guitarrista Carlos Issa se entregou apaixonadamente ao show. A microfonia ao final do espetáculo arrancou sinceros aplausos da galera. Após a sessão de louvação ao Sonic Youth, Svetlana interrompeu a descarga de guitarra elétrica. O modo intimista-melancólico desses paranaenses, que remete a Nick Drake, teria sido mais conveniente à abertura do Upload.
Sexta-feira: Los Hermanos e Cachorro Grande
Os cariocas do Leela mostraram que o Rio de Janeiro também morre de amores por Weezer. Guitarras inflamadas, theremin e a vocalista Bianca Jhordão puseram a platéia, principalmente os homens, a alguns centímetros das caixas de retorno. “Imploro para ser seu prato principal”, canta Bianca, que faz bem o papel de mulher-objeto.
Cachorro Grande entrou para marcar o festival. Descontada a pose, o que se viu foi um show de rock´n´roll autêntico e com vítima não fatal. Marcelo Gross jogava sua guitarra para cima. Perto do fim da apresentação, o guitarrista cede novamente aos seus impulsos mas, ao despencar do alto, o instrumento encontra a cabeça do vocalista Beto Bruno. O resultado é um mar de sangue inundando a camisa do uniforme e uma toalha usada para estancar o ferimento.
Los Hermanos, prato principal, fizeram a melhor apresentação do Upload. Após a destruição feita pelos cachorros, os autores de Anna Julia varreram a Choperia com uma seleção de boas canções. “Estamos com o tempo curto, hoje não vamos falar muito”, disse Rodrigo Amarante logo ao subir no palco. Todo Carnaval Tem Seu Fim, segunda música do set list, promoveu um espetáculo de confete e serpentina que fez o vocalista Marcelo Camelo se emocionar, “Vocês estão ficando profissionais nisso”.
Sábado: Sabotage e Z´África Brasil
O último dia foi abaldo por dificuldades paulistanas. Um dilúvio de meia hora transformou São Paulo em Veneza. Por isso, o número de pessoas na apresentação dos Pullovers foi menor que o esperado.
Forgotten Boys tocou punk básico para uma platéia receptiva, mas que aplaudia sentada o empenho roqueiro do trio. Quando Instituto e convidados se agitavam momentos antes do show, entendeu-se quem esse público queria ver.
As primeiras rimas mandadas pelo rapper Sabotage põem a galera pra dançar. Depois de Mun-Ra, o ator de O Invasor sai de cena para a Nação Zumbi ficar sob a luz dos holotes. Solaris, da Nação, traz harmonia ambient à festa. Longe Demais une os pernambucanos a Black Alien para continuar a celebração de amigos.
O maior balanço da noite fica por conta do Z´ África Brasil. Sapo na Banca é irreverente, com direito a passos de coreografia. “O dom da rima é foda”, como o grupo diz em outra música. Ao fim do Upload 2002, Sabotage volta para levar Rap É Compromisso. Nela, são citados vários nomes de compositores e cantores. Sem dúvida, não poderia ser melhor desfecho.