Sana Inside » 'Rock Show Case – Ettore Rock (Forum Studio, RJ – 30/11)'

Rock Show Case – Ettore Rock (Forum Studio, RJ – 30/11)

(Clarim Diário, Chalaça, Cactus Cream, Chinelo de Couro Cru, Fernando Pennafort, Fanfarra, Ápice)
Forum Studio (Botafogo, RJ) – 30/11


A idéia do festival Rock Show Case, feito pela produtora/gravadora Ettore Rock (o site oficial, www.ettorerock.com.br, está em construção, mas contatos podem ser feitos pelo e-mail ettorerock@yahoo.com.br) é reunir um punhado de bandas num espaço que já é próprio do músico, um estúdio. Sim, o festival é realizado no estúdio Forum, em Botafogo, com som, peso e conforto inimagináveis na maioria dos espaços para shows do Rio – isso sem falar na total interação técnica-banda-público. A seleção é eclética, comportando desde nomes mais experimentais até bandas mais pop, passando por uma verdadeira surpresa psicodélica, o Cactus Cream. Os headliners do festival foram os caras do Clarim Diário e seu pop-rock cheio de tons negros, altamente amadurecido. Além das bandas, ainda rolou cerveja barata (ótimo) e a continuação da história em quadrinhos da banda Oxiurus, feita pelo Pedro de Luna (dos sites Bandas Desenhadas e sk8.com.br).


A primeira banda a se apresentar foi o grupo punk feminino Ápice. Tocando músicas próprias e covers (“Celebrity skin”, do Hole, por exemplo), o grupo não apresentou muita coisa nova, mas revelou três boas instrumentistas e foi uma boa abertura. Mesmo destoando um pouco do resto do evento e fazendo um som bem mais adolescente do que o das outras bandas, acabaram agradando – muita gente que passava pela porta do estúdio entrou para conferir que som era aquele e acabou ficando. Depois do Ápice, veio uma coisa rara no cenário musical brasileiro, ainda mais em se tratando de artistas novos: um cantor solo. Fernando Pennafort apareceu fazendo um som bem rockeiro e inspirado por rock dos anos 60 e 70. Algumas músicas chegavam a lembrar Who, Beatles e Byrds, até na maneira de cantar. Bom de palco, o cara deve ter arrumado muitos fãs por ali.


Os momentos mais pesados do show ficaram com as bandas Fanfarra e Chinelo de Couro Cru, que têm um som cheio de guitarras pesadas e quebradas bruscas de ritmo – o resultado é tão experimental quanto pesado. O Chalaça, outro grande nome pop do evento, apresentou um som meio rock meio MPB, chegando a trocar a guitarra pelo violão em vários momentos. O som é suingado e alguns vocais chegam a lembrar Cazuza.


Os melhores momentos ficaram com o Cactus Cream, espremido lá pelo meio, e com os headliners do Clarim Diário. O Cactus Cream, que já lançou um single com a música “Alegria espectrônica” (e um promo, que serve como aperitivo para o primeiro disco da banda, que está para sair), praticamente é um aglomerado Violeta de Outono-Echo & The Bunnymen-Jesus & Mary Chain-Syd Barrett. O show da banda, repleto de guitarras apitando, barulheiras (afinadas e organizadas, diga-se), arranjos lentos, teve até peocupação com a iluminação – as luzes foram todas apagadas e rolou até um abajur no palco, dando um clima ainda mais “viajeiro” à coisa. As letras – quando podiam ser entendidas no meio da massa de guitarras – soavam tão viajantes quanto a própria música, cheia de ruídos, guitarradas e alguns solinhos estilo “Interestellar Overdrive” (Pink Floyd fase Syd Barrett). Muito, mas muito bom.


O Clarim, por sua vez, tocou as músicas de seu EP Depois do temporal, um dos melhores trabalhos independentes feitos em 2002 – ainda que tenha poucas músicas, mostrou uma banda pop excelente, coesa e bem preparada – além de algumas novas. A identidade da banda calca-se na mistura de som oitentista, rock inglês, MPB e ritmos negros – o vocalista Sandro chega a receber um Djavan rápido em algumas músicas. Bons de palco (bom, digamos que o público tenha ficado mais de olho na vocalista Vivian), os caras mandaram ao vivo um som bem mais pesado que no disco, privilegiando guitarras e combinações de vocais. É pop, mas com um conteúdo por trás e um som que merecia um trabalho mais bem feito e diversificado do que o que é feito, geralmente, pelas grandes gravadoras – que poderiam se dar muito bem com canções como “Castelos e princesas” e “Manhattan”.


Além desse evento, a Ettore promete realizar outros festivais durante o ano que vem (conforme o próprio Marcelo Teófilo, criador da produtora/gravadora, já havia avisado em uma entrevista aqui mesmo no Central). Ainda em dezembro, no dia 21, rola outro Rock Show Case, no Forum mesmo, com a participação das bandas da Ettore e mais alguns convidados. Só fica faltando a banda capixaba João Moraes & A Patuléia, também pertencente à Ettore – os caras iriam se apresentar no evento nesse dia, mas tiveram que gravar o Programa do Jô (sério!) e se ausentaram. Vale a pena esperar por mais surpresas.

© 2008 Powered by WordPress