Revoluções por muito tempo
Sempre que uma banda (aqui o RPM), vinda de outra década (no caso, os anos 80), onde fez muito sucesso (mais de 2 milhões de discos vendidos) lançar trabalho novo e cair na estrada, vem à tona a seguinte questão: isso aconteceu por ser ela, a banda, muito boa, e com isso sua volta era necessária; ou com a produção do pop-rock atual ser abaixo do esperado, ficou aberta esta lacuna que os rapazes do Revoluções Por Minuto ocupam tão bem sem fugir daquilo que foi criado no auge da banda? Motivos não faltam para esse retorno à mídia.
O Canecão se encontra lotado para ver o “RPM 2002 – A Volta do Rock Espetáculo”. Inesperada presença da garotada – compradores do ao vivo da MTV? Ou ouvintes do vinis dos irmãos ou dos vizinhos mais velhos? Nunca saberemos. Melhor ficar em dúvida. O que importa é a animação oitentista que a presença deles em um show de uma banda das antigas transmite. Ou seja, o pessoal do RPM não faz cara de mau, não está antenado com a streetwear – nada contra, mas fica parecendo tirar proveito de uma tendência na moda lá fora – e eles não estão ali para fazer as variação do metal, com hardcore ou rap, mas sim, para tocar seus sucessos, que já estão devidamente decorados pelos adolescentes presentes.
Paulo Ricardo parece mais à vontade empunhando seu baixo e vestindo jeans do que na sua fase romântico – coisas que se faz para sobreviver. Deluqui, P. A. e Schiavon levam o som com competência e discrição, deixando o vocalista brilhar naturalmente.
Basicamente o que empolga no show são os hits da banda. “Revoluções por minuto”, “Juvenília”, “A cruz e a espada”, (com o vocalista cantando sentado em um banquinho e a voz de Renato Russo saindo das caixas de som, recurso já usado por Paulo em seus shows solo), “London, London” e “Flores astrais”, (covers que fizeram muito sucesso e se revelam escolhas de muito bom gosto). Uma versão de “Exagerado” do Cazuza.
Então começam os sucessos que colocaram todos pra cantar e pular ensandecidamente, mais ou menos como acontecia naquela época. “Louras geladas”, “Rádio pirata” e, já no bis, “Olhar 43″e “Alvorada voraz”. Todas irresistíveis em seu balanço e em suas letras, coisas que foram feitas no passado mas se mantém fresquinhas em sua juvenilidade pop. Pena que as músicas inéditas, como a romântica “Rainha” não mantém a qualidade. Parecem estar sofrendo do romantismo-quase-brega da carreira solo de Paulo Ricardo. O momento efeito-visual, tão anunciado no outdoor e nas chamadas do show, foi na instrumental “Naja”, outra bem conhecida. Os óculos 3-D distribuídos na entrada foram colocados pela galera para acompanhar o vídeo que passou no telão. Funciona quando se fala em música instrumental, algo que fica chato em show de rock.
O RPM ainda tem muito o que mostrar – dizem que tem repertório para um disco de inéditas, já pronto – em um momento que as bandas de sua geração mostram muito fôlego, frente a outras mais atuais que fazem caras e bocas e esquecem do essencial: talento.