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Resenha: Shaman no ATL Hall, Rio de Janeiro

Você é banger? Dos radicais? Então ótimo, vá ler outra coisa, não perca seu tempo comigo. Fui no show do Shaman disposto a conhecer a banda – já tinha, evidenetemente, referências do Angra e do Viper, bandas que o vocal do Shaman, André Matos, ajudou a fundar e abandonou logo depois – e a poder saber qual era a da banda, ao vivo. O Shaman já fez história em pouquíssimo tempo de existência: é uma banda de heavy metal brasileira que foi contratada por uma major – gravou um CD pela Universal music – e ainda por cima teve música incluída na trilha sonora de uma novela global (com direito a execução quase diária – dizem, porque quase não tenho tempo de assistir à tal novela). Daria até pra começar a ficar com a pulga atrás da orelha.


Apesar da malta banger ser enorme, uma coisa que impressionava é que o show do grupo não estava tão cheio: haviam vários espaços vazios na platéia. A banda que abriu os trabalhos, o Allegro, já tem uma sólida carreira no underground metal brazuca e, vai entender porquê, mereceu do ATL Hall uma qualidade sonora bem melhor que a do grupo principal. O som não parecia uma maçaroca – para banda de abertura, impressionava – e o Allegro, sinceramente falando, imprimiu bem mais energia à sua apresentação que o Shaman. Deve ter deixado saudades em muita gente.


Depois um tempinho de descanso e… as luzes se apagam. Começa a rolar um filminho nos telões, num clima meio Pantanal, meio épico. Com um nome desses, Shaman, a banda não iria deixar por menos: tinha que ter um cirquinho armado. A banda entrou no palco já com aquela pose de tô-esbanjando-energia… e realmente impressionou com as primeiras músicas, belas e pesadas, crossover total entre heavy metal e progressivo. O Shaman impressiona mesmo, não só pela técnica do grupo, como pelo carisma de André Matos. O cara canta horrores, joga os cabelos pra lá e pra cá, diverte a platéia, toca piano – só esbanjou técnica no instrumento mesmo lá pelo final do primeiro bloco (isso mesmo: primeiro bloco!) da apresentação -, toca bateria… Mas logo ficaram claros os pontos fracos do grupo. O baterista Ricardo Confessori, também vindo do Angra, parecia nervoso demais durante o show – errava algumas batidas, coisas que num show qualquer não irritaria tanto, mas numa apresentação com movimentos friamente calculados deixava a desejar. Depois foi se soltando, a ponto de fazer uns solinhos meio presepeiros, com direito a malabarismos com as baquetas. Comparar o guitarrista do Shaman com o Kiko Loureiro (o do Angra) seria até covardia, mas é inevitável.


O show do grupo, apesar de legal, também pecou bastante pela duração. Mesmo sendo ótimo para quem estava sedento pela aparição do grupo no Rio, os caras exageraram: foram duas horas de show, ótimas para quem ama a banda e meio pentelhas para quem estava lá para conhecer ou resenhar. Esta performance springsteeniana incluiu voltas ao palco para tocar músicas do Angra (“Carry on”, pedida pelo público desde o início do show, foi uma das últimas músicas a ser tocadas), do Viper (“Living for the night”, da primeira e melhor fase da banda, um arraso em versão metal-bregoriana) e várias covers, com o vocalista André na batera e Confessori empunhando uma guitarra, meio sem graça. Nesse ponto do show, rolou um dos momentos mais engraçados: o baixista elevou o pedestal do microfone, assumiu os vocais e mandou uma versão de “Ace of spades”, do Motörhead, imitando o estilo vocal de Lemmy. Na boa, parecia uma alucinação.


Outros momentos curiosos do show: lá pelas tantas André Matos, no meio de uma música, assumiu um ar meio Falabella (cabeça baixa, com as mãos em posição de oração) enquanto a banda finalizava uma música, fazendo uns solinhos e tal. De repente ele se levanta e… uma chama se acende embaixo dele, numa pira. A platéia foi ao delírio com o clima RPG da coisa, claro. Em “Living for the night”, do Viper, a banda começa a tocar e… quem entra no palco? Sim, Yves Passarell, atual guitarrista do Capital Inicial (que se apresentaria lá no dia seguinte) e ex do Viper. Sem que muita gente nem acreditasse – até porque nem se sabia como o cara iria ser recebido pela malta metal – Yves pegou a guitarra, lascou uns solinhos e presepou mais do que tocou, animando a galera com uns gestinhos meio esquisitos. No final do show, outro momento levanta-galera: “Painkiller”, do Judas Priest, tradicional desde a época do Angra.


E o vocalista André Matos ainda prometeu voltar mais vezes ao Rio, alegando que agora o Shaman é contratado da Universal, uma gravadora carioca, e que o Rio é agora a “segunda primeira casa” (sic) da banda. Na hora em que rolou esse papo senti um puta medo dos caras pegarem o microfone para agradecer ao Marcelo Castelo Branco, mas não rolou, graças a Deus. É a hora de quem é banger, ou simplesmente curte metal, comemorar: nunca o metal brasileiro foi tão longe, dentro de seu próprio país. E isso, até pelo que vem acontecendo ultimamente com o Sepultura, significa muito.

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