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Plebe Rude, Maldita e você: tudo a ver

(Estação Livre Cantareira, Niterói/RJ – 09/11)


       O primeiro show produzido pela rádio Fluminense AM (cada vez mais a única em rock´n roll, como a própria programação tem mostrado) foi um sucesso em todos os sentidos – apesar do pessoal da segurança, provavelmente acostumado a trabalhar em show de pagode e de funk, interpretar qualquer rodinha da galera como sendo porrada e não pensar duas vezes pra meter o sarrafo. Coube à Plebe a honra (que eles não cansavam de agradecer no palco, por sinal) de ser a primeira banda de grande porte a participar de um show da rádio. A Plebe deu ao seu público o que ele queria – um show recheado de clássicos, com a banda em ótima forma (em especial o vocalista/guitarrista Phillipe Seabra, cada vez mais parecido com Pete Towhshend, do Who, em termos de presença de palco).


       A abertura ficou com a banda Bella Godiva, a primeira grande revelação da rádio em CDemo. Só a idéia de batizar uma banda com esse nome (para quem não sabe, é o nome da editora musical que por muito tempo administrou a obra de Jimi Hendrix) já é uma sacada de mestre, mas o som (e o show) da banda também é excelente. Se a idéia do quarteto de Niterói (Ricardo Romão nos vocais e violão, Danilo Loria na guitarra e ocasionais vocais, Ugo Perrota no baixo e Chini na bateria) era fazer uma espécie de “hard rock brasileiro”, conseguiram.


       Influenciadíssimos por Led Zeppelin (a abertura do show foi dedicada a trechos da obra de Page, Plant, Jones e Bonham sampleados), rock dos anos 70 em geral e bandas retrô, eles emendaram versões para “Rock do segurança”, de Gil, “Sina”, de Djavan, músicas próprias (como “Quero ouvir o som”, “Louco” e a excelente “Esse povo tá maluco”) e mandaram ver. Destaque total para o guitarrista Danilo Loria e para o solo de violão de Ricardo Romão, baseado em “Over the hills and far away”, do Led. Aliás, o som da banda ficaria bem melhor se tamanha idolatria ao Led fosse deixada um pouquinho de lado, porque com um CD lançado (independente, mas com potencial para ser remasterizado e lançado por alguma grande gravadora) e músicas estouradas numa rádio, certas coisas começam a queimar um pouco o filme. E que as gravadoras venham em cima!


       Antes do show da Bella Godiva, a Plebe tinha ficado por meia hora no palco, concedendo uma entrevista (desfalcados do baixista André X, por sinal). Phillipe, Gutje e Jander falaram sobre o que eles viam de diferente entre os anos 80, 90 e 00, como era a época áurea do rock de Brasília e disseram que, antes de tudo, o que interessava para eles no começo de carreira era tocar e não propriamente vender um milhão de cópias ou aparecer na TV. Hoje, em 2001, a banda (Phillipe em especial) ainda vai no rock como quem avança num prato de comida – e isso torna a Plebe, senão a melhor banda do país, pelo menos uma das que mais sabe dar um bom show.


       O grupo abriu com uma vinheta baseada em “Um outro lugar” (do terceiro disco, de 1988) e emendou com “Brasília”, fazendo o público que se acotovelava na frente (eu entre eles, por sinal) pular, cantar junto e dar o sangue junto com a banda. A banda inseriu algumas novidades no show, como “Seu jogo”, única música do primeiro EP da banda que tinha ficado de fora do CD ao vivo e trechos de “Não é sério”, do Charlie Brown Jr, inseridos no meio de “Minha renda” – com direito a um sorriso irônico de Phillipe Seabra.


       A ironia de Phillipe estava afiada, por sinal: sobrou para a rádio Cidade FM (que tinha patrocinado um show da Plebe alguns dias antes): “Vocês sabem que de vez em quando a gente tem que fazer uns showzinhos para umas rádios aí, né… Mas esse eu tô fazendo com prazer, porra!”. E também para os conterrâneos do Capital Inicial, na abertura de “A ida” (“boa noite, nós somos o Capital Inicial e vamos fazer um número acústico”, seguindo com o refrão de “Primeiros erros”). Músicas lançadas no CD ao vivo como “A voz do Brasil”, “Luzes” (cantada pela platéia em uníssono) e “Medo”, do Cólera (belíssima ao vivo, por sinal) foram tocadas com garra e Phillipe aproveitou para inserir trechos de “Tommy”, do Who na abertura de “Proteção” (com Phillipe segurando dois violões) e versos improvisados em “A ida” (“de que vale um Bin Laden com uma bomba na mão”).


       Jander, como sempre cagando para convenções, subiu no palco de bermudas, barba por fazer e, mesmo tímido, tomou para si a tarefa de fazer a comunicação da banda com a platéia em muitos momentos – agradeceu a “todos que sabiam de cor” a letra de “Mentiras por enquanto” e chamava a platéia para acompanhá-lo nas músicas. O único problema é que sua viola elétrica (uma das melhores idéias dos últimos tempos, por sinal) estava inaudível a maior parte do tempo.


       Antes de qualquer coisa, a Plebe sabe que o bom humor é característica fundamental ao rock. Phillipe, como um pastor da Igreja Universal, gritava que “A rádio Fluminense salvará o rock´n roll nacional e a Plebe Rude também! Salve-se enquanto é tempo, meu filho!”. Saíram do palco sem tocar seu maior hit (“Até quando esperar”), deixando o público desesperado – e voltaram para o bis, no qual tocaram “Nunca fomos tão brasileiros”, a obscura (e fraca, por sinal) “Plebiscito” e… “Até quando”, claro. Fica faltando à banda descobrir que no disco “Mais raiva do que medo” não tem só “Este ano”, que o terceiro disco da banda merecia ser mais tocado ao vivo e que “Roda Brasil”, que foi ignorada no show, é uma das melhores músicas do repertório da Plebe, mas e daí? Se a Plebe quer salvar o rock´n roll, ela é a banda certa na hora certa. Um disco de inéditas, pelo amor de Deus!


SET LIST:


“Brasília” (O Concreto Já Rrachou, 1985)


“Seu jogo” (O Concreto Já Rachou, 1985)


“Minha renda” (O Concreto Já Rachou, 1985)


“Bravo mundo novo” (Nunca Fomos Tão Brasileiros, 1987)


“Johnny vai à guerra” (O Concreto Já Rachou, 1985)


“Luzes” (Enquanto A Trégua Não Vem, 2000)


“Códigos” (Nunca Fomos Tão Brasileiros, 1987)


“Este ano” (Mais Raiva Do Que Medo, 1993)


“Medo” (Enquanto A Trégua Não Vem, 2000)


“A ida” (Nunca Fomos Tão Brasileiros, 1987)


“Voz do Brasil” (Enquanto A Trégua Não Vem, 2000)


“Sexo e karatê” (O Concreto Já Rachou, 1985)


“Mentiras por enquanto” (Nunca Fomos Tão Brasileiros, 1987)


“Proteção” (O Concreto Já Rachou, 1985)


Bis:


“Nunca fomos tão brasileiros” (Nunca Fomos Tão Brasileiros – 1987)


“Plebiscito” (Plebe Rude, 1988)


“Até Quando Esperar” (O Concreto Já Rachou, 1985)

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