Discurso de Rita agrada mais que o show Yê Yê Yê de Bamba
Considerada por muitos a “Rainha” do rock nacional, Rita Lee sempre teve uma postura provocadora, seja através de seu som ou de frases polêmicas que demonstravam uma consciência das coisas e do Brasil. “Yê Yê Yê de Bamba”, seu show com releituras da obra dos Beatles (algumas cantadas no original e outras com letras em português que ficaram bem abaixo do que se esperava de Rita) valeu mais pela postura provocativa da cantora – atirando em várias direções, em temas da política, televisão ou até mesmo esportiva, já que é ano de Copa e todo mundo fala da convocação, ou não, de Romário. Rita não ficou de fora do debate, conseguindo com isso momentos memoráveis, ainda mais quando, questionando uma novela da Globo, encontrou na platéia um dos diretores do canal. Nesta hora a provocação ficou completa.
Estou me apegando ao discurso de Rita porque a parte musical não chamou muito a atenção. A banda é formada por feras como João Barone (Paralamas) na bateria, Dadi (ex-Marisa Monte e A Cor do Som) no baixo, Ary Dias (também ex-A Cor do Som) na percussão, William Magalhães nos teclados, e pelo guitarrista e companheiro Roberto de Carvalho, sarado e tocando muito. Deste time não precisamos falar, todos sabem do eles são capazes. As versões para os clássicos é que não funcionam o quanto deveriam. Minto, “Lucy in the sky with diamond”, com andamento bossa-novista, funcionou muito bem. Méritos da banda. Em “Panis te circenses”, ela mostrou sua veia de palhaço, colocando um nariz vermelho e agradando pela desenvoltura.
A apresentação dos hits da década de 80 do repertório de Rita, como “Chega mais / Pega, rapaz / Banho de espuma”, tocados em um mesmo set musical, foi o pretexto que todos esperavam para levantar de suas cadeiras. Isto lá pelo final do show, quando “Jardins da Babilônia”, em uma versão rock, encerrou a parte que antecede o bis. Rita retornou vestida de presidiária, acompanhada de Roberto, na guitarra, e iniciou o momento dos pedidos da platéia.
“Doce vampiro” e “Lança perfume” não poderiam ficar de fora numa hora dessas. “Desculpe o auê” e “Caso sério” mostraram estar vivas na memória de todos, mas foi a apresentação de “Mania de você” o momento sublime da interação entre artista e platéia. Rita regeu um coro emocionado, acompanhando com trejeitos as marcações da música. Um hit que nunca se apagou de nossas lembranças. “Ovelha negra”, sua música mais conhecida, encerrou a noite em que Rita provou ser ainda muito querida, e que apesar de não fazer o sucesso de outras décadas, suas canções permanecem vivas. Pena que o seu discurso agradou mais que o show.