Dead Fish: uma banda que dá o sangue em cima do palco
(Estúdio Bar – Niterói, 01/09/2002) O hardcore faz milagres: o Dead Fish é uma banda de Vitória, independente, que entra para dar seus shows praticamente no meio dos fãs, bate papo com o público após a apresentação e, quando se pensa em Niterói (cidade onde me escondo, no Rio) você nem imagina como existem fãs dos caras por aqui. Pois é, existem, e eles cantaram todas as músicas da banda durante o show do grupo. Cantaram, subiram no palco, deram mosh, fizeram o diabo enquanto os músicos davam o sangue. E provavelmente contagiaram muita gente que ainda não tinha tido o prazer de ser apresentado ao som deles – eu, por exemplo, que conhecia a banda de ouvir falar e fui apresentado ao som deles naquele dia.
O DF subiu ao palco após uma série de shows, alguns de bandas locais, como o Yolk e o Seu Madruga Veste Preto. Antes os caras tinham ficado um tempão conversando com fãs e vendendo CDs numa banquinha armada perto da porta do estabelecimento. A banda surgiu há dez anos e já gravou quatro CDs, dos quais o último é um EP com seis faixas – uma extravagância para bandas de hardcore, que geralmente têm músicas curtas e lançam discos com porradas de faixas (veja os discos dos norte-americanos do DRI, por exemplo).
No release do grupo, colocado em seu site oficial (www.deadfish.com.br), o som dos caras é definido da seguinte forma: “dizer que se trata de uma banda de hardcore melódico fica fácil e até covarde, mas fugindo das toneladas de bandas do estilo, o DF tem personalidade, não é mais uma cópia dessa ou daquela banda gringa, eles nadam contra a maré da monotonia, chavões e clichês do já surrado estilo. Isso fica mais que provado ao ouvir e acompanhar as letras e a constante evolução da banda”. Após o show do DF fica uma puta sensação de desastre de avião, batida de ônibus ou terra arrasada – ou seja: funciona, e como.
Como fui convertido à banda naquela mesma noite – enfim: patinando na desinformação, não sei nome de músicas, nem nada – posso afirmar que o som do DF funcionou muito bem e agradou bastante à platéia, formada em sua quase totalidade por adolescentes. Sei que faixas clássicas da banda como “Escapando”, “Cidadão padrão” e “Mulheres negras” rolaram naquela noite e fizeram a alegria da platéia, que sabia todas as letras de cor. Com esse show e com a volta da Fluminense FM ao ar (e ao seu local original, 94,9 – aliás, falta abordar isso melhor, até mesmo aqui no Central da Música, onde tenho uma coluna só de velharias) Niterói mostra realmente que é uma das cidades mais rockeiras do Brasil.
E no mais? Bom, vida de banda independente é assim mesmo, ir até onde seu povo está: na mesma noite os caras embarcaram numa van e se pirulitaram para o Green Rock, festival realizado em Minas, que tinha começado naquela mesma noite e iria até o dia seguinte. Mesmo com alguns problemas que assolam todos os espaços pequenos para shows – o som do tal Estúdio Bar era meio caído e os mosheiros da casa podiam acabar sabotando todo o show, caso esbarrassem num fio que ia do palco até uma pilastra e roçava na cabeça de quem chegasse perto dele – a banda foi com energia. Altamente recomendável, eu diria.