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As “entrelinhas” de um show de Fernanda Porto

Uma artista competente e contida. Transmitindo esta imagem, a cantora e multi-instrumentista Fernanda Porto conduziu sua primeira apresentação em Vitória, Espírito Santo, na boate Blow Up.


O show, realizado em 27 de dezembro foi iniciado ao som da “politicamente correta”, Baque Virado, na qual Fernanda apresentou uma exímia execução de caixa.


A entrada foi um grande momento da apresentação, uma vez que, por se tratar de um show quase que exclusivamente de drum n bass, o público certamente não esperava uma entrada com uma música que tivesse a presença e força de Baque Virado, além do fato da própria figura de cantora com uma caixa presa à cintura ter sido bem diferente.


O som de Fernanda, mostrado no disco recém lançado, é talhado por misturas ritmicas, harmônicas e estilísticas, que deram certo, por sinal.


O momento de maior interação do show foi, sem dúvidas,  o mega hit “Só tinha que ser com você”, clássico de Tom Jobim cuja versão moderna desenvolvida por Fernanda e pelo DJ Patife é um dos carros-chefe de qualquer ambiente regado à drum n bass no país. A platéia toda sabia a letra, tema de novela da Globo,   e até quem não sabia, dançou a valer.


Juntamente com “Sambasssim”, “De costas pro mundo”, foi outro bom momento da apresentação. Mesmo quem não conhecia a música, repetia:


“Eu tô chegando, de costas pro mundo
O mundo que vire pra lá,
O mundo que vire de novo”


A música, que não tem grande letra e nem é “tão lírica assim”, funciona justamente pelo fato de ser leve e simples. No show contou ainda com um solo de sax “incorrigível”, conduzido, é claro pela própria instrumentista.


“Sambassim”, música que consagrou a cantora fora do país, também causou furor. Repetida duas vezes, a batida contagiante agradou. Foi durante a execução dela que se evidenciou o quão contida a cantora é. Conversava pouco com o público, em alguns momentos aparentava certa insegurança e dançava menos que talvez devesse para um show que seria supostamente ultra movimentado. A falta maior não foi de movimentação em si, mas de interação. O público estava lá pra vê-la, conhecia o trabalho e encontrou uma música exímia, capaz de tocar destramente guitarra, teclado, sax e caixa sozinha, em uma apresentação de pouco mais de uma hora. Porém, não uma intérprete, apesar da bela voz. O que faltou, tenha sido talvez a emoção de uma Elis, ou a expressão da emoção que Fernanda Porto provavelmente sente ao ver uma casa cheia, como estava a Blow Up .


Ainda na linhagem “músicas deliciosamente descompromissadas”, a faixa-de-trabalho “Tudo de bom” não causou furor, mas o público aprovou. A letra, apologia ao amor, tema amplamente abordado pelas letras de compostas pela cantora, deve ser o próximo hit da cantora.


O melhor da noite foi a versão drum n bass de Sampa, do Caetano Veloso idealizada em conjunto com o DJ Xérxes. “Anti-Caetanismos”  à parte, “…alguma coisa acontece no meu coração…” ainda é uma das maiores canções da história da MPB. Fica bem em qualquer versão.


“1999″, canção erudita, em latim, foi muito bem aceita, mérito único e exclusivo da cantora, uma vez que erudito não é o estilo predileto do brasileiro.


Ainda do CD “Fernanda Porto”, lançado pela Trama, fizeram muita falta as canções “Jeito Novo” e “Vilarejo Íntimo”, sendo a última, o melhor trabalho da cantora e uma das melhores músicas de 2002.


Em linhas gerais, o show valeu a pena. Esperava-se mais, até pelo grande trabalho de mídia que tem envolto a artista, porém é impossível classificar a apresentação como deficiente ou até mediana. Poderia ser melhor, porém o excelente repertório e a forma incorrigível como foi executado fizeram com que fosse impossível não gostar.


Fotos do Show (por Fabricio Zucoloto – zucoloto.vix@terra.com.br)









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