APR: A última noite, balanço geral e revelação do ano
A última noite do Abril pro Rock, levou cerca de 6.000 pessoas ao pavilhão do Centro de Convenções. O APR encerrou o festival de 2003 com a gafe de não ter escolhido uma banda pernambucana para o gran finale, que ficou para o Ira!, uma banda que não arrasta mais nem 1.000 pessoas por show lá pras bandas do sul? Bom, deixa para lá.
A noite começou com meia hora de atraso. Quem abriu foi a pernambucana Azabumba, no palco 2. Aquele forrozinho que não te deixa ficar parado. Entre o intervalo de um show a outro, que quase não havia, uma pausa para a jam dos Belgas Think of one. Microfones, palco improvisado e a apresentação foi no meio do público mesmo. O som é uma mistura da música tradicional belga e ritmos latinos, bem convidativo, aguçou a curiosidade de muita gente. Eles estiveram fazendo essas jans durante todo o festival em um dos espaços alternativos do pavilhão. Outra atração era Monga, a mulher que vira macaco, pra ver a transformação era só pagar R$ 1,00.
Agora era vez de Marciel Salu mostrar toda a música que herdou do pai, Mestre Salustiano. Marciel está começando um trabalho solo, após ter saído da Banda Chão e Chinelo. Rabela, pandeiro e aboios fizeram o público ficar perplexo com o show, não é à toa, o rapaz tem um potencial de voz incrível. É claro que o menino tem futuro. Sem sair da linha regional, quem abre o palco principal é Siba e Fuloresta, pra começar todos abriram uma enorme ciranda no pavilhão. Siba trouxe a própria fonte de onde sempre bebeu para o palco e sem dúvida nenhuma mostrou que tradição não é coisa do passado. Para encerrar o bombardeio de diversidade, Júnior Barreto mostrou seu trabalho, uma fusão dos baixo acústico, teclados e percussão. Drum n bossa, ritmo que empolga os ingleses.
No meio da noite é a vez dos cariocas dos Los Hermanos se realizarem mais uma vez através do público que cativaram em Recife. Já livre do estigma “Ana Júlia”, os caras fizeram a platéia cantar em coro as músicas do Bloco do Eu Sozinho. Quando questionado quanto as perspectivas com relação à nova gravadora, o vocalista Marcelo Camelo afirma que por enquanto as relações são as melhores possíveis e que a banda sabe que não correrá o risco de ter a sua musicalidade alterada por imposições. A mudança do nome do novo CD de Banança para Ventura, segundo M. C, se deve ao fato de ser mais convidativo e mostra uma continuação da fase da banda.
Cachorro Grande, a revelação gaúcha, mostrou um show regado a influências dos Beatles, Rolling Stones e Supergrass. Aparentemente uma linha bem coportadinha, os caras tocam de terninho e tudo mais, mas no palco quebram o pau. O segundo CD sai ainda este ano e a banda tem negociações com gravadoras ainda em off.
Nando Reis fez um dos melhores shows da sua carreira solo. Maus conformado com a perda dos amigos Marcelo Fromer e Cássia Eller, Nando se libertou no palco cantando sucesso dos Titãs, Cássia Eller e cover do Joe Jeffrey Group, My pledge of love. Hora do Ira! subir ao palco, a essas alturas, 01h30, só os fãs mesmos ficaram, cerca de 1.000 pessoas. A banda já não é a mesma e não apresentou nada de novo desde o último show, ano passado no Rec Beat, festival que acontece durante o carnaval no meio da rua. Um dos pontos altos do show foi quando Fred 04 adentrou o palco e fez dueto com Nasi em três clássicos do Clash, um deles uma versão de Train in Vain.
Balanço e Revelação do APR
Pra fazer um balanço das três noites do festival Abril pro Rock, prestigiaram o evento cerca de 20.000 pessoas, 1.000 a menos que o esperado pela produção. Segundo o produtor Paulo André Pires, o festival atingiu a expectativa de público, mas, não de patrocínio.
Esse ano o APR teve verbas cortadas, sem o apoio da Chesf, por exemplo, ficou inviável trazer bandas internacionais, sem falar da instabilidade do dólar. Apesar das dificuldades que a produção alega ter, Paulo André afirma que sempre fará o APR, não sabe como, mas fará. “Não posso deixar de fazer o Abril, se acabar, leva a cena com ele, vocês não podem imaginar o número de CDs que recebo por ano e a quantidade de bandas que querem tocar aqui”, diz o produtor. O sonho dele é trazer para a segunda noite o Slayer. “O sábado é o dia que dá menos gente, cerca de 5.000 pessoas, porém é o público certo”, afirma.
O evento contou com uma área alternativa, Feira de Arte e Comportamento, cerca de 30 expositores entre moda, CDs, tatuagens e instrumentos musicais. Foram mais de 20 horas de shows com 500 mil watts de potência de luz e som.
Pois é, com toda essa estrutura o festival tinha que cumprir o seu papel de revelador, e na opinião da imprensa, que cobriu o evento, e até mesmo da tímida opinião de Paulo André, destaques para Stereo Maracanã e Marciel Salú. Bom, compromisso cumprido, pelas bandas de fora e daqui, egos aguçados e só a bandeira de Pernambuco foi hasteada por várias vezes, durante as três noites, elevando a auto estima do estado e do público também. Então, até o Abril Pro Rock 2004.