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Alto e bom som?

       “Eu me apresento em alto e bom som pra que todos possam me ouvir”. Nunca um verso de música soou tão próximo de uma meia verdade para mim. Refiro-me ao show do Planet Hemp no Compinter Clube, em Niterói, no último sábado. Alto o som estava. Já bom…


       O público compareceu em peso. Divulgação maciça e preço decente (R$ 12 antecipado, R$ 15 na hora) aliaram-se à crônica falta de boas atrações na cidade para encher o local. Coincidentemente, na véspera a Cantareira – também lotada – recebeu Cidade Negra e Forroçacana. Em termos de shows, foi, de longe, o fim de semana mais animado da cidade em anos. Espera-se que, após duas noites de platéias cheias em seqüência, produtores se animem a trazer outras bandas “grandes” para o lado de cá da Baía da Guanabara com mais freqüência. Uma apresentação aqui em cada turnê já estaria ótimo.


      O que não precisa se repetir é o péssimo som que a Ex-quadrilha da fumaça utilizou. É inadmissível que um dos vocalistas do grupo tenha passado praticamente todo o tempo cantando com um microfone (ou caixa de som, sei lá, não sou engenheiro de som e garanto que, se há alguém com este cargo na equipe da banda, provavelmente entende menos do assunto do que eu, do que você, leitor, ou do que qualquer um que goste um pouquinho de rock) estourado. Conversando com dois amigos que me acompanharam na empreitada (um deles, o Marco, autor da coluna Pólvora aqui desta mesma Central), não cheguei a uma conclusão: se BNegão parecia estar cantando debaixo d água ou se o barulho que chegava a nossos ouvidos era uma imitação malfeita do Pato Donald. Foi ridículo. Foi feio. Foi horroroso.


      Quando subiram ao palco, provavelmente às duas da manhã (eu estava sem relógio, mas, como o show acabou às quatro, a estimativa não é difícil), D2 e BNegão reclamaram que não havia “retorno”. Imagino que quem quer que tenha desligado o retorno o fez para que a banda não ouvisse a merda de som que saía a partir do que ela fazia no palco. O baixo estava alto demais (sem trocadilho), enquanto a guitarra de Rafael só pôde ser ouvida decentemente depois de não sei quantas músicas tocadas. Juro que não parecia uma banda com três discos lançados por uma grande gravadora tocando em uma grande cidade. Já estive em ensaio de banda que vinha som melhor. Eu mesmo, com meu desconhecimento de equipamento de som, já ajustei os canais na passagem de som de uma banda (ou melhor, grupo) de pagode (fazer o quê, amigo é pra essas coisas) e, acredite, o resultado foi superior ao de sábado.


       O show? Para quem conseguiu abstrair a péssima qualidade do som ou havia fumado maconha a ponto de não estar “tintindo nada” (aparentemente o segundo grupo era muito mais numeroso que o primeiro), foi bom. Longo, incluiu quase todos os sucessos do repertório do grupo. Perto do palco a galera abriu uma roda de tamanho respeitável, o que parece ter animado os músicos a tocar praticamente todas as músicas hardcore já gravadas por eles. Rolou até “Bala Perdida”, do Usuário. Senti falta de algumas boas do “Os Cães Ladram mas a Caravana Não Pára”, como “Mão na Cabeça”, “Adoled” e “Rappers Reais”. Novamente (como na apresentação do Planeta Atlântida, em fevereiro), brilhou a belíssima versão de “Samba Makossa”, de Chico Science & Nação Zumbi


       D2 discursou pedindo paz, sendo prontamente atendido ao pedir gritos e gestos do público. A mensagem, no entanto, não impediu que algumas “najas” (ou maçarandubas, ou pescoçudos, ou jiu-jiteiros, enfim, gírias pra denominar gente forte e escrota não faltam) distribuíssem bordoadas a torto e a direito na molecada que queria pular e se divertir na roda. Lamentável e, infelizmente, típico desta área de influência da Cidade Maravilhosa. Uma pena, porque motivos pra se divertir e não brigar havia: o lugar é bacana, estava repleto de gente bonita, houve shows de Bagabalô e Canamaré (ambos abriram para o Planet, com som decente, o que torna incompreensível a péssima qualidade do som da atração principal), além de forró (num palco paralelo) e pista com música dance.

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