Acompanhando o Luna pelo sul do País
Duas colaboradoras do MúsicaNews lá em Santa Catarina, Jeanne Callegari e Beatriz Tironi, saíram de Florianópolis para conferir, na última quinta-feira, o show da banda nova-iorquina Luna em Curitiba. Além da entrevista que estava prevista, as duas conseguiram uma vaga no ônibus da banda para conferir o show em Londrina, no dia seguinte. Na matéria abaixo, Jeanne conta como foram os shows que fecharam a turnê da banda pelo Brasil. A entrevista, feita com o vocalista Dean Wareham, será publicada aqui no MúsicaNews no final de semana.
Em Curitiba, ingressos esgotados
Por Jeanne Callegari
Muita gente não conseguiu assistir o show do Luna em Curitiba na última quinta-feira, dia 27. Os duzentos ingressos colocados à venda estavam esgotados desde a semana anterior. Mas quem conseguiu um lugar no apertado galpão do bar Era só o que Faltava não se arrependeu e viu o que, de acordo com a baixista da banda, Britta Phillips, foi o melhor show da turnê brasileira.
A banda de abertura foi a PELVs, que abriu cinco dos sete shows do Luna no Brasil. Na estrada desde 92, os cariocas da PELVs lançaram recentemente seu terceiro e ótimo CD, Peninsula, pelo selo midsummer madness. O show foi ótimo: o som da banda, calminho, com influências de Pavement e surf music dos anos 60, funcionou bem com o público do Luna. Eles tocaram músicas do novo disco, como Even If The Sun Goes Down (Ill Surf), e coisas antigas como Menstruation and Masturbation, do primeiro álbum, Peter Greenaways Surf.
Quando eles terminam, os integrantes do Luna sobem no palco. Eles mesmos montam tudo, sem frescura. Saem e voltam minutos depois para o show. O repertório é baseado no último álbum da banda, Luna Live!, lançado no Brasil pela Trama, assim como o disco anterior, The Days of Our Nights. Eles começam, o público vai ficando hipnotizado. Não se vê ninguém agitado, todos são docemente embalados pelas canções harmoniosas da banda, como Pup Tent e 4000 Days.
Um dos pontos altos é 23 Minutes in Brussels. O vocalista e guitarrista Dean Wareham e a baixista Britta tocam de um jeito elegante e sensual, e todos são guiados pelas guitarras envolventes de Sean Eden. Dean canta com voz suave, não pára de observar o público e agradece várias vezes os aplausos. A platéia delira quando a banda toca a maravilhosa 4th of July, do Galaxie 500, cultuado trio que acabou em 1991 e do qual Dean fazia parte. O G500 também foi lançado pela Trama no Brasil, em uma caixa com a discografia completa.
Um raro momento de conversa acontece quando uma corda da guitarra de Sean arrebenta. Enquanto ele troca, o vocalista aproveita para comentar sobre os tênis laranja que está usando, diz que os comprou no Brasil muito barato… Eles voltam a tocar e as pessoas entram em transe com Season of The Witch, gravada para a trilha sonora do filme I Shoot Andy Warhol. Ao final, quando a banda deixa o palco, o público fica inconformado. Ninguém sai do lugar e todos gritam, até que o grupo volta para um bis. Tocam a versão de Sweet Child OMine, do Guns N Roses, aplaudidíssima, e Friendly Advice.
Saíram de novo, mas o público ainda queria mais. Aos gritos de Luna! Luna!, a banda voltou pela última vez. Indian Summer empolgou os fãs, e quando terminou, estavam todos com uma certa ternura no coração, e a certeza de que o Luna faz o mundo parecer um lugar mais belo.
Em Londrina, o último show da turnê
E tudo estaria terminado por aí para essa repórter e sua companheira de matéria, não fosse a oportunidade surgida de acompanhar o Luna até Londrina, aonde iria acontecer o último show do grupo no Brasil. Lá fomos nós.
No ônibus, o mais espirituoso era Sean, o guitarrista. Prometeu que o ônibus se transformaria numa grande discoteca assim que partisse e brincou com o fato de haver “jornalistas” (ele falou em português) no ônibus e disse para todos tomarem cuidado com o que diziam… Mas não houve nada de escândalos, brigas ou festas, todos foram dormindo nas seis horas de viagem, cansados da noite anterior.
Chegando lá, acompanhamos a montagem dos equipamentos e a preparação da passagem de som. Sean filava nossos cigarros e bolachas de chocolate, enquanto Britta contava que começou a tocar aos 25 anos de idade. Bewitched, a primeira do show, horas mais tarde, foi tocada na passagem de som. Em seguida, PELVs e Grenade passaram o som.
A Grenade é de Londrina e abriu os shows no grande e lotado The Music Hall. Tanto a Grenade quanto a PELVs, que tocou depois, foram prejudicadas pela qualidade do som. Houve problemas com a aparelhagem e cordas de guitarra de ambas as bandas arrebentaram. Mesmo assim, elas fizeram boas apresentações. A Grenade foi bastante animada: o baterista tocava empolgado e o vocalista, meio Frank Black, cantava versões energéticas das músicas presentes no deprê álbum do grupo.
Em seguida, foi a vez da PELVs. Alguns integrantes estavam visivelmente irritados com os problemas técnicos, e não pareciam tão à vontade quanto no show de Curitiba, mas isso não impediu que as baladas cantadas em inglês e bem tocadas da banda agradassem ao público. O baterista do Luna, Lee Wall, acompanhou o show inteiro com ar de aprovação, do lado do palco.
Mais uma vez, os integrantes do Luna entraram e montaram seus equipamentos. Sean estava engraçadíssimo, fazendo caretas o tempo todo. A banda tocou Dear Diary, seguida da soturna Superfreaky Memories. O show repetiu a hipnose do dia anterior, apesar de não ter sido tão bom, até pela qualidade do som. A fofa California (all the way) também fez parte do set list, mas Sweet Child OMine e 4th Of July, bastante pedidas, não foram tocadas. Teve também quem pedisse Sweet Jane, do Velvet Underground, com quem o som do Luna se parece. Estavam até chamando Britta de Nico. O emocionante duo de Britta e Dean em Bonnie and Clyde encerrou o show.
Dessa vez, um único bis – Season of The Witch. Arrasador. Depois do show, eles desmontaram os equipamentos e distribuíram autógrafos. O vôo para Montevidéu sairia às seis da manhã, aonde fariam um show. Mais um show em Buenos Aires e de lá voltariam para Nova Iorque. Quando eles foram, deixaram um público órfão, esperando pela próxima oportunidade de ver um show tão honesto e de qualidade.
De acordo com Britta, eles querem retornar ao Brasil com a turnê do próximo álbum da banda, a ser lançado no início do próximo ano. “Já está praticamente pronto e falta só decidir por qual gravadora lançar”, diz ela. Ao se despedir, Sean diz “até o ano que vem!”. Esperemos que ele esteja certo.
Algumas fotos
Por Beatriz Tironi e Jeanne Callegari
O guitarrista/vocalista Dean mandando ver no show de Londrina
A banda inteira
A passagem de som em Londrina
Sean, o outro guitarrista da banda
O tenis que Dean comprou “barato” no Brasil