A voz e o violão de Cássia Eller
“Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher
sou minha mãe e minha filha, minha irmã minha menina
mas sou minha, só minha e não de quem quiser
Sou Deus, tua Deusa meu amor”
(1º de Julho, Renato Russo definindo detalhadamente quem é Cássia Eller)
Uma viagem! Totalmente demais. Cássia provou o quanto é fundamental dentro da história da nossa música. Em termos de voz, hoje, ninguém chega perto. Quando ela liberta seu lado Mississipi, e deixa a veia blues rolar, cara… se alguém já presenciou algo como aquilo, por favor, pare de mentir..
O show, parte do projeto carioca “Luz do Solo – o artista e o instrumento”, traz como proposta uma apresentação totalmente acústica. Voz e violão mesmo. Na verdade, parece que fomos transportados ao universo musical particular de “Mrs. Eller”, sem frescuras ou palpites alheios. Tive a sensação de que estávamos todos numa imensa sala de estar onde alguém pega o violão e resolve “levar” umas canções para animar o ambiente. Foi assim..
Parece que, para surpresa de Cássia talvez, a “sala” estava muito cheia, e ela não escondeu que estava um pouco tensa. Recomeçou algumas músicas, é verdade, mas foi com o intuito de dar o melhor de si. E conseguiu.
Começamos com uma balada da Joni Mitchell seguida por duas do penúltimo álbum de Cássia (Maluca e Gatas Extraordinárias) depois uma do álbum do Nando Reis (All Star), até aí uma palavrinha ou outra com a galera, entre as músicas e chega a hora de mandar uma do Zé Ramalho, ela começa bem e … erra! “Parou, parou, errei vou começar de novo. Puta que me pariu tô nervosa pra caramba!” Delírio da massa, segue normal com a nova “Queremos Saber” e outra inédita, na voz dela, agora de Vitor Ramil, muito boa. O momento que muitos ali esperavam, “O Segundo Sol”. Ela vira e diz: “Se eu errar essa vai ser foda! Tô errando tudo e olha que hoje eu nem fumei maconha! Vamolá.” Não preciso nem descrever a reação do lado de cá, né?
Rolou ainda “Malandragem”, “Luz dos Olhos”, “Eu Sei”, “Por Enquanto”, “Doce Mar” (“O Arnaldo Antunes fez pra mim, mas eu não gravei. Depois ele disse que achava que era uma música muito “doce” para minha pessoa. Por que será?” Contou rindo, entre trejeitos aviadados…), “Relicário”, “1º de Julho” e começamos a caminhar para o fechamento arrebatador. “White Summer”, imortalizada pelo Led Zeppelin, mais precisamente por Jimmy Page, a clássica “You`ve Changed”, onde a voz faz a diferença, “Na Cadência do Samba”, e mais um “standart” americano e outro brasileiro pra fechar.
O bis não podia deixar de ter uma deles: “Les Bitle”! E a da vez foi “Eleanor Rigby”, inspiradíssima, na seqüência, para acabar mesmo, ela atacou de “Socorro”, apontou para o meio do campo, e encerrou a partida.
Depois de assistir a esse show, e como esse eu nunca vi igual, apenas confirmei algo que já sabia (acompanho as apresentações dessa “young lady” desde 1996, sem perder o tesão), o Acústico MTV (não que seja ruim), poderia ser muito melhor, pelo potencial e versatilidade da Cássia. Digo mais: se “Dogma” (do Kevin Smith) um dia tiver uma versão nacional, não haverá dúvida para escolher quem fará o papel de Deus.