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2º dia do festival London Burning no Rio, com Onno e Valv

(Festival London Burning, Bunker 94, Rio de Janeiro, 19/10). A Bunker 94 é um dos raros picos indies do Rio. Localizada num bairro que já tem uma fama meio born-to-be-wild (Copacabana), ela foge do esquema normal das boates e bate fundo no estilo “festa estranha com gente esquisita”: lota de rockeiros, indies, pat-indies, goticozinhos, goticazinhas e daquele povo que recentemente foi conceituado como “ploc” pela revista Domingo, do JB. Nos sábados, a boate tem aberto para os shows do festival London Burning, organizados pelo Luciano Vianna, chefe do famoso e-zine. A LB é uma das raras revistas boas sobre bandas novas, daqui e de fora, que tem para se ler na net – e as bandas escolhidas foram pinçadas entre os melhores nomes do rock underground brasileiro.

Mesmo num mercado fechado para bandas novas – em que até bandas que já estiveram em grandes gravadoras aparecem na TV para dizer que, mesmo com disco na loja, pediram dispensa por não agüentarem os velhos esquemas ou a desatenção de suas direções artísticas – festivais como este têm a suprema função de manter a cena rockeira viva, de criar um esquema para que grupos novos possam se apresentar e angariar novos fãs, além de alargar o mercado. O fato de ser realizado numa boate atrapalha por causa do preço do ingresso, mas também auxilia, já que quem saiu apenas pensando em dançar, pode acabar assistindo ao show por acaso e gostar das bandas – vale lembrar que foi num esquema semelhante que Legião Urbana, Capital Inicial e até Engenheiros do Hawaii se criaram.. As bandas do segundo dia do festival (a carioca Onno e a mineira Valv) parecem estar ganhando terreno nesse sentido. No caso específico da Onno, várias pessoas cantavam as letras, pediam músicas e a vocação powerpop da banda (que mistura canções pop ao peso do punk e do heavy) está mais do que afiada. A Valv, com um público também presente, mostrou-se uma surpresa para muita gente. Lançando seu disco por um selo carioca (o Midsummer Madness), os caras, que já tinham baixado pelo Rio para abrir o show do Mogwai, foram definidos num release como post-rock – na verdade, o som do Valv é uma maravilha de barulheiras de guitarras, influenciadíssima por Velvet Underground, Sonic Youth, The Cure e Agent Orange.


Após uma boa sessão de discotecagem com o próprio Luciano (na qual rolaram Weezer, Foo Fighters, Pixies, Mudhoney e até T. Rex), o Onno entrou no palco. Fazendo um som bem mais pesado e distorcido do que em estúdio, o grupo revelou de cara uma grande deficiência do espaço: o som ficou embolado e os vocais, durante quase todo o tempo, ficaram inaudíveis – levando-se em conta que a banda tem vocais e letras legais, foi-se parte da graça. Ainda assim, músicas como “Lilie”, “Canções na TV”, “Você” e “Plugaína” mostraram que têm força suficiente para sair dessa encrenca numa boa. Os músicos estão tocando cada vez melhores – especialmente a baixista Elisa, que levou até fã-clube próprio – e a música do single novo, a tal da “Canções na TV”, promete um futuro mais power do que pop para a banda, ainda que num mercado desfavorável. O produtor do grupo, Marcos Sketch, comentou que a tendência agora é o Onno lançar talvez mais um single ou mesmo um CD inteiro no ano de 2003, ainda no meio independente. Azar das gravadoras, que poderiam lucrar bastante com “Pontos cardeais”, uma canção pop perfeita e pronta.


Vindos de Minas, os caras do Valv fazem rock n roll pesado, distorcido, cantado em inglês e energicamente tocado – o palco ficou pequeno para os integrantes do grupo, que pulavam e gesticulavam de forma quase townshendiana. Com uma qualidade sonora um tiquinho melhor – os vocais ainda estavam inaudíveis, mas debaixo daquela massa sonora toda, era o que menos interessava – o grupo faz aquele tipo de som que as gravadoras adoram tachar de anti-comercial: guitarras pesadíssimas, vocais em inglês, distorções a todo momento, músicas enormes (herança do Sonic Youth, ao que parece), essas coisas. O fã-clube, pelo que se viu, não teve do que reclamar e quem não conhecia a banda (como eu, que levei até o CD) ficou impressionado. Rolou até um momento comédia: lá pela metade do show, o vocalista/guitarrista cismou que a guitarra estava desafinada e resolveu abrir um case e pegar outra. Enquanto isso, o show rolando e o couro comendo solto… Só de sacanagem, os membros da banda começaram a levar uma irônica cover de “Baba baby”. Quando a paz se reestabeleceu, o barulho continuou e a banda terminou o show aplaudidíssima. Nota 10.


Agora é esperar pelas outras bandas que aparecerão nos próximos sábados – pelo que foi divulgado, todos os sábados da Bunker serão dedicados ao festival. A agenda do London Burning, para outubro, inclui ainda as bandas Glamourama e Vermelho 40, no dia 26. Para qualquer informação, é só entrar em www.londonburning.com.br. E, ah, conheçam o Onno em http://www.onno.com.br e o Valv em www.valv.dk.

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