Transistors faz som chapado, urgente e carregado de barulho
Ao contrário da crença popular, os instrumentos eletro-eletrônicos utilizam as mais variadas distorções. A mais comum é o overdrive, que imita a saturação do amplificador – uma guitarra não é nada sem seu pedal overdrive. Mas existem muitos outros tipos, entre eles o fuzz, que preenche o som com ruído branco (TVs fora do ar, barulho das ondas, etc).
É em cima dessa sonoridade que a banda paulista Transistors preparou seu disco de estréia, In Transfuzzion, aproveitando um lado um pouco esquecido da psicodelia sessentista. O álbum foi gravado na garagem dos músicos, de forma a ter a sonoridade mais suja possível.
Eles fogem de efeitos muito sofisticados, delays viajantes, espacialidades. O som é chapado, urgente, carregado de barulho. Um manifesto orgânico contra a musicalidade sem alma do techno. Luditismo sonoro. Pra quem estava com saudade de solos, é uma beleza.
A formação da banda é tão crua quanto sua música: guitarra + baixo + bateria, com um teclado pra dar pitadas melódicas sobre os riffs nervosos. E, quem diria, duas garotas comandam as cordas, às vezes até o microfone. Felizmente, a banda tem sua feminilidade bem-resolvida, sem ser cosmopolita emancipada nem riot grrl.
O chato é ver que apenas uma música do disco é cantada em português. Uma vez que eles preferem vocais incompreensíveis e anti-melodias, não custava nada ter desconstruído nossa própria língua. Mas vá, questão de gosto.
A única dica para ouvir o disco é não se deixar enganar pela capa floral, cheia de pixel fonts e gráficos vetoriais. Como os espiões dos filmes da Guerra Fria, o som da banda tem estilo, mas está longe se ser inofensivo.
Faixas
I Dont Wanna Be Like You – o lado hardcore (ou será country?) da banda se mostra abertamente nessa música. O carro-chefe dos shows.
Texas Garage Punk – o evangelho conceitual do disco: this techno shit / I dont wanna hear / its like a washing machine / get out of my ears / Texas garage punk / is what I want. Isso tudo e mais um solo: a receita do sucesso.
Gotta Move – nesse cover, o grupo abandona um pouco do ruído habitual e se prefere apostar no vocal rockabily e no riff chiclete. Cai como uma luva, prova de que eles poderiam ser bem pop se não fossem tão rebeldes.
Atma 9 – essa é a faixa em português. Talvez você não tenha percebido justamente porque eles enterram os vocais sobre todo o resto da mixagem: bateria insana, guitarra wah-wah e influência assumida dos Mutantes. Dá pra empolgar.