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“The best of…” reúne 15 faixas de Siouxsie & The Banshees

Finalmente a Universal resolve lançar em CD no Brasil qualquer coisa do grupo de Susan Dallion (nome verdadeiro de Siouxsie, que se inspirou na tribo Sioux para se rebatizar – o rabicho “and the Banshees” vem da obra de Edgar Allan Poe), após anos de um verdadeiro jejum. Os fâs de Siouxsie and The Banshees, um dos grupos mais variados e criativos do rock oitentista, só tinham em CD as edições limitadíssimas e pouquíssimo divulgadas de Superstition (91) e Rapture (95). Quem quisesse discos como Hyaena, Once upon a time, A kiss in the dream house e outros, só sujando os dedos nos sebos, já que pelo menos em vinil quase todos foram lançados. Este é um trabalho para a dona Universal, que tem todos os discos do grupo em seu catálogo e bem que poderia lançá-los no Brasil em formato digital.

A coletãnea em questão não saiu à toa – Siouxsie e seu marido Budgie, atualmente mais dedicados ao projeto The Creatures (iniciado ainda nos anos 80) remontaram a banda para alguns poucos shows pelos EUA e, de brinde, fizeram até uma faixa nova, a bela “Dizzy”, incluída neste CD. Para quem não conhece nada da banda, vamos aos fatos: Siouxsie & The Banshees é um grupo que remonta a era dos Sex Pistols, com um bando de gente circulando pela loja Sex, de Vivienne Westwood e frequentando os clubes punks, no fim da década de 70. Susan Dallion, a Siouxsie, era uma dessas figurinhas: fanática pelos Sex Pistols, ela pertencia a um grupo de fâs da banda (o Bromley Contingent), trabalhava como modelo para a Sex e, numa das primeiras formações dos Banshees, chegou a ter Sid Vicious, que ainda não tinha entrado para os Sex Pistols, como baterista. Em 1978, contando na formação com Steve Severin (baixo), John McCay (guitarra) e Kenny Morris (bateria), Siouxsie and The Banshees estréiam em disco, com o single “Hong Kong garden” e o LP The scream. Era um punk detalhista, diversificado. Pouca coisa a ver com o esporro dos Pistols – e futuramente, Siouxsie and The Banshees passariam a ser considerados o grupo gótico por excelência, a partir dos climas mórbidos, das batidas secas e das bad trips de faixas como “Dear Prudence” (regravação dos Beatles), “Cities in dust” (talvez o maior sucesso da banda no Brasil) e “Israel”.

Quem for comprar The best of… deve atentar para um detalhe curioso: a remasterização deixou algumas faixas com um som bem esquisito, caso da própria “Dear prudence” e de “Kiss them for me”. Ouvindo-se todas as faixas com atenção, dá pra notar o quanto Siouxsie and The Banshees foram importantes para o rock nacional: bandas como Legião e Plebe Rude não podem negar que escutaram faixas como “Christine”, “Spellbound” e “Arabian knights” até furarem os sulcos. Influência não só no rock como no visual de muita gente (algo visto em cinema, publicidade, etc), Siouxsie diz, num depoimento publicado no texto do encarte, que é provável que muita gente tenha considerado seu grupo como apenas uma coisa vazia, passageira. Nada a ver: faixas como “Peek-A-Boo” (um surpreendente rap, que fez sucesso até em pistas de dança) e a bela versão da banda para “This wheel s on fire”, de Bob Dylan (cujo final lembra aquele interlúdio orquestral de “A day in the life”, dos Beatles) provam o quanto o grupo evoluiu e o quanto a proposta inicial da banda foi se abrindo para novas influências. Com fornação mutante, Siouxsie and The Banshees chegou a admitir Robert Smith, líder do Cure, como guitarrista – uma experiência fracassada que gerou alguns singles e o projeto The Glove, “a” bad trip musical, responsável pelo LP Blue sunshine (disco conceitual, cujo tema é a contaminação por LSD estragado).


Dono de um razoável fâ-clube no Brasil, o grupo já esteve aqui duas vezes, em 1988 e 1995. O lançamento de The best of…, mesmo não sendo o suficiente, pelo menos recoloca as melhores (discutível, pois faltam várias) músicas da banda nas lojas brasileiras. Seria legal que discos como Hyaena, que foram lançados no Brasil com campanhas publicitárias que incluíam anúncios de página inteira em revistas e os cacetes (eu lembro) voltassem às lojas. Enquanto não dá, quem não tem grana para encarar CDs importados a 50 reais tem 15 faixas a menos para baixar da internet.

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