Tabla Beat Science: groove hindu de raiz
A música eletrônica sempre andou de caso com a indiana, pelo menos desde que a ilha de Goa abriu suas praias para as raves underground mais famosas do mundo. Afinidades entre os estilos assaltam os ouvidos: melodias cíclicas, apelo devocional, transe e frenesi rítmico. A religiosidade orgânica dos hindus serve perfeitamente ao hedonismo clubber.
Poucos produtores, entretanto, conseguem realmente aproveitar da musicalidade o oriente distante. Salvo raras excessões, esses Asians Dub Foundations da vida, o que a gente costuma ouvir são goa/psytrances que soam como uma espécie de new age bombado – incluindo barulhos de garças e ondas do mar!
Nesse mar de psicodelismo desnecessário, o Tabla Beat Science apresenta uma proposta no mínimo interessante. O projeto é pilotado pelo produtor Bill Laswell, e reune uma pá de percussionistas indianos famosos. Mas a verdadeira estrela do disco que acabam de lançar, Tala Matrix, é a própria tabla.
Pra quem não sabe (e eu também não sabia), tabla é o nome daquele tamborzinho indiano bem agudo. Esse tamborzinho é tocado segundo padrões rítmicos pré-definidos chamados talas – daí “Tala Matrix”. O número de talas existentes é praticamente infinito, e o disco cuida de explorá-las pelos mais diversos ângulos em cada uma de suas 10 faixas.
A diferença já começa pela capa, um grafitti de Doze Green (o mesmo do Lado B Lado A) com um Ganesha de tênis sentado num soundsystem. E por dentro o disco segue essa mesma linha “gueto”, aproveitando a textura inquieta do instrumento como base para batidas quebradas.
Mas não vá pensando que é um disco pra ferver na pista. A coisa toda parece mais ambient, ou até IDM, mas de qualquer jeito não passa do lounge. Pra dançar ainda faltam toneladas de subgraves, apesar de um ou outro baixo eventual. E, depois da sexta música, o disco começa a soar repetitivo. Afinal, apesar de os padrões serem infinitos, a gente acaba cansando daquele timbre pentelho.
World music com barulhinhos? Bem, se música indiana fosse jazz, Tala Matrix seria um belo disco de fusion.
Faixas
4. Don’t Worry.com – Repare no vocoder – tablatech? Com uma equalização propícia essa faixa poderia muito bem ir para as pickups sem maiores remixes.
6. Devotional – Pegue a música indiana mais clássica e simplesmente acrescente um baixo de responsa. Nada no disco é mais efetivo.
8. Triangular Objects – Não se deixe enganar pela batida eletro que abre a faixa: mesmo sendo o mix mais trance do disco, Triangular Objects é bem feito, sutil. Escute com atenção que você vai ouvir a tabla lá embaixo, sob camadas de loops ácidos.
10. Alla – E se Erik Satie fosse hindu? Intervalos e percussão autista, pra ouvir quase subliminarmente.