Sana Inside » '“St. Anger” é melódico e pesado como o Metallica de sempre'

“St. Anger” é melódico e pesado como o Metallica de sempre


St. Anger é um disco engraçado. Ou que pelo menos tem provocado reações engraçadas no público. Antes de mais nada: o Metallica de Ride the lightining e And justice for all (melhores discos do grupo, na minha opinião) está no passado e é melhor que fique por lá mesmo. A não ser que algum fâ da banda curta ver o Metallica dando shows em circuitos menores, sendo convidado apenas para festivais de heavy metal lá onde o Judas perdeu as botas e vindo ao Brasil em shows bancados pelos próprios fâs, que nem acontece com o povo prog. Radicalismo, pretensão e água benta cada um usa como quer.


O Metallica gravou um disco que pode não ser o melhor da sua carreira – e na verdade perde feiésimo se comparado com os já citados – mas que, graças a Deus, deixa os piores momentos da banda nos anos 90 (leia-se Re-load e boa parte do Load) também lá, no passado. Só que a banda evoluiu. Estava aporrinhando o saco ver que o Metallica, gravando um disco só de covers (o meio mais ou menos Garage inc., de 1999), chegava a soar igual ao Caetano Veloso gravando “Sozinho”, do Peninha. Ambos tinham a mesma repercussão na mídia (tocavam até nas mesmas rádios, de Cidade FM a Jovem Pan) e se bobear, tinham os mesmos fâs.


Em St. Anger, a musicalidade do Black album aparece mesclada às palhetadas dos primeiros discos, sem o ar caricatural que marcou as últimas produções da banda. E já tem gente se apressando em dizer que o disco é “muito nu-metal” ou sei lá o quê. As batidas, as palhetadas, os refrãos e os tons de bateria (que vêm com um som de latinha pesada realmente esquisito) lembram às vezes os de bandas como System Of A Down – que não é nu-metal – e Korn. Só que o que poderia parecer uma baita macaqueação consegue passar batido como evolução – e não soa falso. Isso acontece na faixa título (cujo refrão poderia estar em Toxicity, do System), em “Dirty window”, “Shoot me again” e, especialmente, em “Invisible kid” – a melhor faixa, misturando um bom refrão a porradas de bateria. E o “engraçado” do disco fica por conta das horas em que o Metallica chega a lembrar o Sepultura, banda que, em começo de carreira, roubava todas as palhetadas do Metallica. Só que o Metallica de sempre está lá, em “My world” e em várias outras faixas. E, ora bolas, esse pessoal não queria peso?


Faltou falar: a presença de Bob Rock como produtor e co-autor, que poderia ser preocupante, não chega a incomodar. A entrada de Robert Trujillo no grupo nem é perceptível, já que Jason Newsted não tinha um estilo marcante como baixista. Em tempo: quem tiver 46 reais para comprar o disco e resistir à tentação de baixar as músicas da internet (em tempo: o Kazaa está brindando seus usuários com uma série de faixas do CD novo cortadas pela metade e de músicas com nomes falsos) ganha de brinde um DVD e um código de acesso a músicas inéditas – típica manobra para vender disco e desencorajar os fâs a baixarem MP3, mas que serve pra emputecer bastante quem só queria ouvir as onze músicas do disco e mais nada. Se o tiro vai sair pela culatra aqui no Brasil, só Deus sabe. Por enquanto, vale afirmar que as onze faixas de St. Anger batem um bolão e que o Metallica ainda é a única banda que pode fazer um disco com 75 minutos e menos de 15 música sem aporrinhar a paciência do ouvinte. E que o clipe da faixa-título, gravado na penitenciária de St. Quentin (cuja relação com a história do rock não vem de hoje – Johnny Cash chegou a gravar um disco lá) é bom pra cacete, fora a apelação para a geração Eminem-Charliebrowniana. Dito isto…

© 2008 Powered by WordPress