Soulfly: novo disco traz letras críticas e lembra “Roots”
Para uns a ramificação do rock que gera as figuras mais hilárias (vide Ozzy Osbourne), para outros uma verdadeira religião (vide os fãs do Iron Maiden), o metal é sem dúvida um daqueles estilos que você ou ama, ou odeia. À turma dos afeiçoados à barulheira dos diabos, dedos fazendo “chifrinho” e cabeças “batendo” a todo instante, “3″, (obviamente) o terceiro disco do Soulfly, deve agradar.
Depois de receber toneladas de elogios por “Primitive”, a banda, formada por Max Cavalera quando este saiu (brigado com os companheiros) do Sepultura, retorna com um som diferente e eficiente, mas que não traz nada que já não se tenha ouvido em um disco do gênero. Há quem compare (com certa razão, aliás) a sonoridade de “3″ ao clássico “Roots”, do Sepultura (feito em 1996, quando Max ainda estava na banda), um álbum que fundiu o peso e rapidez do trash metal a ritmos brasileiros.
Já as letras, como toda boa composição metaleira, propalam “atitude”: Em “Tree of Pain” e “One Nation”, o grupo dispara críticas ao modo como os EUA tratam os outros países, enquanto que em “Call To Arms” e “Brasil”, respectivamente, faz um apelo à insubmissão e clama por mudanças (“Vamos detonar essa porra / Vamos levantar poeira / (…) / Brasil, país porrada”).
A tempestade vem sempre seguida de uma calmaria: “9-11-01″ é um protesto e uma homenagem aos mortos nos atentados de 11 de setembro. A faixa tem exatamente 60 segundos de silêncio. Depois de tudo isso, na faixa de número 13, surge uma versão de “Sangue de Bairro”, música de Chico Science. Fecha os quase 59 minutos de disco a instrumental “Zumbi”. Precisa dizer do que se trata?
Max Cavalera fala sobre…
O nome do álbum: “Existe algo poderoso que envolve o número três. Esta é uma das razões que me fez escolher esse algarismo para batizar nosso terceiro álbum. Eu sempre me tornei fã das bandas coincidentemente a partir dos seus terceiros álbuns. Metallica e Black Sabbath são algumas dessas bandas. Espero que o Soulfy possa estar entre essas grandes bandas.”
O lado musical de 3: “Esse trabalho resgata a essência de toda a carreira da banda. É um álbum onde nós alcançamos a maturidade que tentamos atingir nos dois últimos CDs. Sempre surpreendemos as pessoas com diferentes elementos musicais que utilizamos.”
Seu lado como produtor musical: “Eu percebi um grande apoio por parte dos caras da banda e das pessoas envolvidas comigo. Todos dizem que já estava na hora de começar a produzir um álbum. Para a mixagem de 3, nós convidamos Terry Date. Isso foi legal porque era preciso um pessoa em uma dimensão e visão diferente da que eu tive.”
A canção “Tree of Pain”: “No 3 eu decidi dar a Asha liberdade para compor. Ela escreveu algumas letras extremamente profundas e sensíveis. A canção é sobre três pessoas amadas que eu perdi durante minha vida e preciso compartilhar esta dor com as pessoas que dividem os vocais em “Tree of Pain”. Eu tenho um modo de expressar minha dor, Asha tem a forma dela e Ritchie também tem sua forma de manifestar.”
A gravação de “Sangue de Bairro”: “Essa música conta a história de Lampião, uma espécie de Robin Hood, que roubava dos ricos para dar aos pobres. Seu bando era perseguido por infringir as leis. Quando foram capturados, eles foram mortos e decapitados, suas cabeças foram expostas como prêmio no centro da cidade. Os nomes que cito na música são das pessoas mortas. Eu pensei em ser bem hardcore e pensei em ser bem ameaçador também. O Soulfly mostra mais uma vez ser uma banda de peso e atitude.”
A homenagem aos mortos no ataque terrorista: “As pessoas reagiram de diversas maneiras. Eu sinto que esse é o meu modo de demonstrar o respeito pelo fato que ocorreu. ‘9-11-01’ é uma gravação que explica porque esse fato aconteceu e como isso afetou tudo e todos.”
O Soulfly: “Para mim, a coisa mais importante é ser honesto e verdadeiro. Estou lidando com delicadas composições em 3 e também com atitude brutal em ‘Call to Arms’. Isso passou a ser importante pois transmito o que sinto e o que acredito em cada faixa. Nós vamos manter a nossa forma diferente de compor as melodias, pois achamos isso coerente. Gostando ou não, concordando ou não, esta é a forma que eu sinto e a maneira como deve ser. Eu acho que isso faz do Soulfly uma banda interessante, modificando os elementos utilizados em cada álbum.”