Silvera canta sonho americano em álbum de estréia
Silvera é compositor, arranjador e multinstrumentista paulista que, desde os seis anos de idade, vive a música. Transcendeu sua influência gospel americana quando ainda criança, assessorando bandas iniciantes com produção vocal. Quando mostrou fitas demo suas à Trama, saiu de lá contratado, não como produtor, como desejava, sim como cantor. Em seu homônimo primeiro lançamento, Silvera expõe muito de suas influências, mas é ausente.
Falta a originalidade que, por ventura, o conclamaria um imponente representante do soul, americano. Falta o tempero, o diferencial que faria dele, brasileiro. Difícil conceber que este é o mesmo que, com Dj Marcelinho, produziu uma fusão genial do soul à preço de dollar com melancólicas cordas brasileiras em Riscando Um, provendo uma das melhores faixas de todo trabalho. Aqui não, tudo é estilizado, é importado.
Neste, personalidade decepciona, ou melhor, a falta dela o faz. Mas ainda não conclua. Se o proposto foi recriar e seguir passos de grandes mentores do soul, feito. Silvera consegue. Explora seu maleável potencial vocal alternando timbres com maturidade. Não existe contestação. Ouça ”Cada Minuto”. Lá estão timbres sobrepostos, uivos, sussurros, e o swing sensual que, nesta, lembra mesmo Michael Jackson ou Maxwell.
São sessenta e dois minutos de um mundo maravilhoso, longe de especulação internacional, de milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza, repleto por amores, exclusões, amorosas, desencontros, amorosos. Enfim, o amor é lindo. Novamente, falta. Falta tarefa-social. A consciência de que vivemos uma sociedade distante do sonho americano. Tem até um “shake your body!” em “Vem Ficar Comigo”. Triste.
Tome uma aspirina e pronto. Passa. “Quando o Vento Sopra” funciona como um homeopático, se preferir. É misericordiosa. Competência inegável. Destaca-se no álbum, assim como “Alguém Como Você”, que, em minúcia, me remete a um grande clássico do new-soul americano, “Lifetime”. Longe de plágio, é remanescente.
As instrumentais, rótulos de qualquer lançamento da Trama, também presentes no primeiro lançamento de Silvera, são agradáveis e, portanto, válidas.