Resenha: O rock honesto do Guided By Voices
Vida de crítico musical é uma dureza. Freqüentemente nos deparamos com discos sobre os quais não há nada de novo a dizer, discos que renderiam laudas e mais laudas de críticas se fossem lançados há dez anos. Deve ser dessa situação que surgem clichês como “a salvação do rock” e rótulos vazios, do nível dos recentemente incorporados alt.country e post-rock.
A digressão acima, entretanto, não é fruto de indignação com o ofício que tanto admiro e sim da falta de inspiração para começar a resenha de Universal Truths And Cycles, disco da banda norte-americana Guided By Voices. Formada no início dos anos 80, a banda tornou-se conhecida mesmo a partir de 93, com o lançamento do álbum Vampire On Titus.
O som praticado pelo GBV lembra o contemporâneo Pavement: rock básico gravado em baixa fidelidade, o chamado lo-fi.Universal Truths And Cycles não foge a essa tradição. São vinte músicas, a maioria delas com cerca de dois minutos de duração, centradas nos instrumentos que formam a Santíssima Trindade do rock: guitarra-baixo-bateria. Há um arranjo de cordas aqui, um piano ali, mas o resultado é rock n roll cru, nem festeiro nem muito meloso.
Robert Pollard, o vocalista e líder do GBV, não pretende reinventar o rock. Quer mais é se divertir e ganhar a vida fazendo o que mais gosta. Sua honestidade faz bem, apesar de causar enxaquecas em críticos pouco inspirados.
Deixando de lado a metalinguagem, vamos àquilo que realmente importa, as músicas. “Skin Parade”, que oficialmente abre o disco - a faixa anterior é uma vinheta de 35 segundos -, tem um pé na Grã-Bretanha e riffs de guitarras secos e urgentes. “Cheyenne” é pop até a medula, com uma certa atmosfera Beatles, enquanto “Back To The Lake” e “From A Voice Plantation” (essa apresenta uns ares progressivos) flertam com a psicodelia. Outros destaques são as faixas “Love 1″, que lembra vagamente Jesus And Mary Chain, “Everywhere With Helicopter”, cuja levada da guitarra remete ao grunge do começo da década passada (ê saudade!) e “Car Language”, com guitarra pesada e marcante.
Universal Truths And Cycles tem tudo para agradar (mas não impressionar) os fãs do chamado rock alternativo, carentes de lançamentos nesses tempos de post-rock masturbatório e chorões britânicos. Não vai entrar para a história nem arrastar uma legião de fãs. Mas certamente não é essa a preocupação do GBV – leia-se Robert Pollard.