Resenha: MM&W faz jazz avantgarde, centrado no groove
Não tão conhecido no Brasil, mas respeitado por vários músicos no exterior, o trio de jazz instrumental Medeski Martin & Wood (MM&W) está tendo dois de seus discos lançados por aqui pela Trama. Com 10 álbuns lançados desde o início da carreira (1991), o tecladista John Medeski, Billy Martin (baterista e percussionista) e o contrabaixista Chris Wood propõem fazer um jazz avantgarde.
Avantgarde porque eles pegaram as suas origens, fundamentadas principalmente no jazz novaiorquino, e inseriram elementos do fusion, funk e rock, fazendo uma salada inusitada. Um dos principais resultados dessa salada é um som que, diferente da maioria dos grupos de jazz que concentram suas músicas nas harmonias complexas dando suporte aos improvisos, o MM&W centra suas composições no groove; os instrumentos formam uma massa sonora referendada em padrões e em células rítmicas, construindo um som pulsante que dá espaço às expressões individuais dos músicos.
No CD “Its a Jungle In Here”, o 2º título dos caras (o disco de estréia foi independente), lançado originalmente em 1993, os caras estavam mais próximos do jazz tradicional, mas não deixaram de soar contemporâneos para a época. De cara, uma levada funky em “Beeck” com um órgão b3 matador e linhas de baixo acústico super criativas introduzem o CD, deixando uma excelente impressão que perdura nas seguntes faixas. Em algumas músicas, como “Where`s Sly” (a melhor do disco) e a mistura de “Bemcha Swing-Lively Up Yourself” (se você pensou em Thelonious Monk e Bob Marley juntos, é isso mesmo! E ficou irado!) eles utilizaram um naipe de metais que contribuiu à beça com o trabalho.
Ainda citando os tradicionais, há “Syeeda`s Song” do Coltrane e “Moti Mo” do músico nigeriano King Sunny Ade, em versões atualizadas. Também há a participação do guitarrista Mark Ribot em “Sand” e “Wiggly`s Way”, onde ele soa melhor que na maioria dos discos do seu grupo (Los Cubanos Postizos). Apesar de alguns momentos monótonos, onde o excesso de notas não correspondem a virtuosismo (caso de “Sand”), o disco todo é muito bem feito; só não é melhor porque a banda não estava tão madura.
Em “Shack-Man” (de 1996), os caras já ousaram bem mais (curiosidade: ele foi gravado numa cabana – que dá nome ao disco – próximo de uma praia havaiana). O groove é muito mais evidente e o conjunto dos timbres deixaram o trabalho levemente mais “sujo”; para contribuir com essa sujeira, Chris Wood toca além do baixo, guitarra elétrica – com uma sutil inspiração em Hendrix e Sonic Youth, mas sem demonstrar o mesmo brilhantismo de baixista.
Resultado: em várias faixas, os caras constróem uma textura típica de pista de dança: células harmônicas e rítmicas sofrendo pouquíssimas alterações e o improviso promovendo sutis modificações dentro da repetição – lembra a proposta do trance; cito “Drácula”, “Bubblehouse”, “Strance Of The Spirit Red Gator” e “Spy Kiss”. Também há algumas com uma proposta mais étnica, sem perder a veia fusion (“Henduck” e “Lifeblood”). Contudo, a essência do álbum comentado anteriormente continua, como nas 2 primeiras faixas (“Is There Anybody That Jesus” e “Think” – provavelmente para não causar estranheza de cara) e nas faixas restantes (“Jelly Belly”, “Night Marchers” e “Kenny”).
“Shack-man” não é tão bom quanto “It`s a Jungle In Here” (particulamente achei um disco complicado), mas vale pela procura de novas alternativas para o jazz.