QOTSA faz canções para (deixar) surdos
As guitarras viscerais e as melodias assobiáveis poderiam fazer do Queens Of The Stone Age um legítimo representante do movimento grunge. O destino, no entanto, determinou que a banda surgisse bem depois do arrefecimento da tempestade que revirou Seattle.
Por causa disso o QOTSA ganhou o carimbo de stoner rock, termo que se refere a grupos surgidos em meados da década passada e que fazem um rock viril e cru, com riffs inspirados no Black Sabbath e em outros ícones do metal setentista. Obviamente o rótulo soa um tanto evasivo, ainda mais para uma banda capaz de agregar múltiplas influências, juntando no mesmo caldeirão The Who, heavy metal e até Dinossaur Jr.
“Songs For The Deaf”, terceiro álbum do QOSA, é peso da primeira à última faixa. Até os momentos mais descontraídos, como a suingada “Everybody´s Gonna Be Happy”, possuem uma aspereza capaz de ferir os ouvidos mais sensíveis. Parte dessa rusticidade deve-se à presença de dois vultos da cena grunge: o ex-Nirvana Dave Grohl comandando as baquetas e o ex-vocalista do Screaming Trees, Mark Lanegan.
Dono de uma das melhores vozes da sua geração, Lanegan ajuda a construir canções definitivas, seja quando assume o vocal (“Hangin Tree” poderia constar no repertório da sua antiga banda) ou nos momentos em que apenas faz backing, como na magnífica “A Song For de Dead”. Dave Grohl, por sua vez, comparece em sua melhor forma, redimindo-se das babas que andava criando no Foo Fighters.
Não há como negar que os membros efetivos do QOSA, Josh Homme e Nick Oliveri (o peladão do Rock In Rio), acertaram em cheio ao convidar a dupla para participar de “Songs For The Deaf”, bolacha que não passaria incógnita no fervilhante início dos anos 90.
Um detalhe interessante do álbum é a atmosfera retrô que ele apresenta. Referências aos anos sessenta e setenta surgem em diversas faixas, como na “whozeana” “No One Knows” e em “Another Love Song”, umas das melhores, mesmo destoando um pouco do clima geral do disco.
Por falar nisso, a diversidade estilos não quer dizer que “Songs For The Deaf” seja uma colcha de retalhos. Tudo é aglutinado por uma eficaz combinação de peso e distorção, assegurando identidade e homogeneidade ao trabalho.