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Primeiro disco da banda Shaman traz heavy étnico

Preste atenção agora: o Shaman é a primeira banda de heavy metal brasileira for export a conseguir ser contratada por uma gravadora gigante no Brasil e a ter música incluída na trilha de uma novela global. Nunca uma banda metálica brazuca foi tão longe – talvez só o X-Rated, por sinal ex-contratado da atual gravadora do Shaman, conseguiu algo parecido, mas sem sombra de divulgação ou promoção. O disco dos caras é uma armação praticamente independente que foi jogada no colo do presidente da Universal – o que já melhorou em muito os custos com a produção do CD – e dois quartos da banda, o vocal André Matos e o batera Ricardo Confessori, já vinham do prestigiado Angra.


E funciona? Sim claro, porque não? Primeiro de tudo, a gravadora está levando o produto a sério – mesmo que selos hoje em dia não queiram dizer muita coisa, o selo Mercury é o mesmo que estampa os CDs de Sandy & Junior. Quanto ao som: tornou-se senso comum dizer que o Shaman é uma banda menos “guitarreira” que o Angra, pelo fato de ter um só guitarrista. O grupo não chega a ser exatamente uma guitar band e o som é bem menos comercial que o do Angra. Ritual, o disco, é uma obra conceitual e experimental que mistura o heavy metal tradicional (tradicional demais, às vezes) com influências étnicas vindas de várias partes do mundo. Nisso, a banda sai na frente. O encarte do CD traz nomes de instrumentos totalmente alheios ao mundinho heavy (zampona, charango, bombo leguero, etc) e a participação de um expoente brasileiro do prog-indie (Marcus Viana, por sinal autor de algumas trilhas de novelas globais), entre outros detalhes. Várias músicas, mesmo as mais prototípicas, têm uma cara meio étnica, como se até as linhas melódicas lembrassem algo meio distante e diferente. Só que… bom, é heavy metal, é porrada, é som pra se escutar no último volume, se é que você me entende.


O CD começa com a mesma introdução meio Pantanal que abriu o show da banda no ATL Hall, aqui no Rio (“Ancient winds”), seguida da palhetada pesada de “Here I am”. A variedade do som do Shaman ganha um clima meio raices de america em “For tomorrow” e manda bala também em gaitas de foles em “Time will come” – cuja abertura, com pianinho, não faria feio nem mesmo nas rádios mais caretas. “Fairy tale”, a tal música da novela, é realmente uma das melhores do disco – e tem realmente cara de trilha sonora, com direito a um coral religioso em latim, riffzinho de piano num clima meio “Greensleeves”, cordas, essas coisas. Aliás, depois dessa vem aquelas que são as melhores músicas do disco. “Blind spell” é um dos sons mais roquenrol do disco, chegando a lembrar o Kiss. “Ritual”, a faixa título, é um heavyzão R&B de espantar, bem diferente do resto do CD.


De modo geral, o disco é totalmente variado: as músicas têm diferentes partes, mudanças de ritmo, crossover total entre heavy metal e progressivo. Os refrõs são daquele tipo que você escuta uma vez e já sai cantando no banheiro. Do vocal de André Matos, fica até chato falar sobre – ainda que o cantor do Shaman precise adquirir urgentemente uma personalidade própria (de certo modo, isso pode ser dito da banda também), ninguém ganha dele em afinação, força e carisma. Ficou faltando falar do encarte: o disco traz uma série de participações especiais (de gente do Dream Theater, do Edguy e de alguns brasileiros) e, na foto central, um clima meio Led Zeppelin IV, com cada integrante da banda sendo representado por uma espécie de signo.


Ritual, o disco, é uma surpresa das mais estranhas: mesmo caminhando numa área diferente do que se vê hoje em dia em termos de Brasil – afinal, nem mesmo bandas mais comerciais são contratadas por grandes gravadoras hoje em dia – os caras conseguiram adentrar o salão pela porta da frente. O jeito é curtir o som, relaxar e aproveitar enquanto durar.

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