Naná Vasconcelos faz gol de placa em “Minha Loa”
Ele também é Holanda, não é filho de sociólogo, mas também faz samba. Ouvindo maracatu desde os quatro anos de idade na cidade natal Olinda, hoje é o percussionista mais conhecido (e reconhecido) do mundo. E só ele para unir a percussão negra, cavaquinho, metais, rabeca, piano (aquilo é um piano?), berimbau e samplers, uma mistura tipicamente brasileira, na qual tudo se encaixa e nada sai do tom.
“Minha Loa”, gravado em Recife e lançado pela independente Fábrica Estúdios, é a maneira de Naná Vasconcelos misturar ritmos. O CD é o encontro da tecnologia à música que ele diz ser orgânica, executada por instrumentistas de primeira linha que põe preto véio na roda de samba e tira véinha caquética da poltrona.
Produtor do “Cordel do fogo encantado”, que recentemente ganhou o prêmio Caras de música, Naná Vasconcelos gravou o disco com a faixa “Futebol” na onda da Copa do Mundo. “Não deixa o futebol perder a dança/ nem perca esse sorriso de criança/ Não deixa o futebol perdeeeeeerrrrrrrr” e gol. Gol de placa.
A remixada “Don´s Rollerskates”, um tributo a Don Cherry, falecido em 1995, e “Macaco”, que tem até um quê de Hermeto Pascoal, fariam um sucessão em casas “tunchi tunchi”.
As trezes canções do disco marcam a voz do negro na sociedade e sua contribuição sonora, facilmente detectada nos títulos das canções como “Estrela Negra”, “Voz nago” (“o candomblé ainda é a voz que faz o negro se juntar”). “Afoxé do Nego Veio” tem uma sonoridade contagiante e certamente faria sucesso em qualquer rádio dita comercial, como o “Forró das meninas” poderia entrar na moda também.
Loas são cantigas populares em honra aos santos (nenhuma alusão ao time de futebol). No singular, sentido figurado, é elogio e apologia. Misturando tudo, fazendo uma apologia à figura de Naná, o disco é singular. No entanto, depois de ouvi-lo e sair do transe, vem a triste lucidez de que o futuro de “Minha loa” são os ouvidos dos gringos. Forte candidato a qualquer prêmio de melhor disco do ano.