Interpol: Rock indie sóbrio e estiloso
Quem diria que a nova onda do rock mundial surgiria logo da terra do hip-hop? De repente estamos todos cercados pelo nu-punk de Nova York. Não se escuta outra coisa.
Mas não é a primeira vez que isso acontece, não. Na década de oitenta (aquela, famosa), terminada a febre dos três acordes, com a chegada dos moogs, tudo passou a ser pós-punk. Colocaram no mesmo saco o eletropop do New Order, o new wave do Information Society e o dance depressivo do Joy Division. Talvez por isso alguns digam que foram anos perdidos: parecem todos dedicados a um único estilo musical, que ainda por cima não vingou.
Afinal, plenos 00s, cá estamos nós de volta ao bom e velho punk. De que adiantou todo o barulho? Como diz o Eduf, editor do Fraude, o punk é a puta do rock. Aquela música, você não sabe bem o que é? Chama de punk. Ninguém vai reclamar. Do grunge pra cá foi sempre assim: a crítica aprendeu a pasteurizar toda a revolta musical.
Mas pode prestar atenção, que você vai notar que não tem nada a ver. Nem tudo é Strokes na nova cena novaiorquina. O Interpol, por exemplo, faz um som completamente diferente dos seus conterrâneos. Na verdade, a banda tem mais a ver com um outro grupo de descabelados, o Bauhaus. E digo isso não só porque a voz do tal Paul Banks é igualzinha a do Peter Murphy.
Tá certo que eles não se penteiam com eletricidade estática nem lambuzam a cara de pasta dágua para parecerem zumbis. Muito pelo contrário, a sobriedade é a grande marca do Interpol. Reza a lenda que o critério para formar a banda foi o bem-vestir dos membros. Se o cara não tivesse estilo, estava fora. Mais ou menos um concurso indie da loira do Tchan.
O impressionante é que todos, além de serem perfeitos almofadinhas, toquem bem. Nada que se diga “oh! como tocam!”, mas o bastante para transmitir aquela classe. Esse disco de estréia soa geralmente cínico e brumoso, com alguns surtos de euforia debilóide – porque nem todo mundo é de ferro, afinal.
Vale a audição principalmente por dois motivos: primeiro, para descobrir que nem todo nu-punk é igual. Depois, para saber que mesmo assim ele não vai muito longe dos anos 80. Na próxima década, é capaz de lançarem um revival do grunge.
Faixas
PDA – a faixa com a bateria mais punchy do disco é um rock melódico, esbarrando no pop. O vocal soa como David Bowie em algum momento eighties da sua vida.
Hands Away – Entre a depressão e a disritmia, essa é trilha sonora para suicídio. Um coro de vozes distantes se levanta através de uma base de piano lúgubre.
Stella was a diver and she was always down – Uma daquelas músicas-historinha, de que o Paul McCartney tanto gostava. Stella é uma garotinha complicada.