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ElectroPunkPornô de Peaches é bom, mas não assusta ninguém

Você já deve ter ouvido que a IBM está prometendo para o ano que vem um computador mais rápido que o cérebro humano. Entre esse e outros petardos tecnológicos, a velha dúvida se instala: na medida em que a máquina se torna mais inteligente, rápida e eficiente que nós, como é que fica nossa suposta supremacia humana?


Quem convive diariamente com sons artificiais sente essa pressão bater forte. Sem crises, a melhor forma que a cultura techno encontrou para afirmar sua humanidade em meio aos replicantes foi enfiar o pé na jaca e mandar ver.


O romantismo ecstasy já não é o bastante: o negócio agora é quanto mais sujo, mais orgânico. Assim, não é de se espantar que o pornô esteja tão em alta, e seja até título do último livro de Irving Welsh (cronista-mor do gueto eletrônico, autor de Trainspotting).


Essa maré de safadeza atingiu em cheio as pistas de dança, impulsionando um revival da música electro, mãe do nosso funk pancadão. Um pouco mais sofisticada, mas nem por isso menos sórdida que seu filho bastardo. É só olhar pra Christina Aguillera, um drástico efeito colateral do fenômeno.


Nesse finalzinho de 2002, chegaram ao Brasil algumas grandes ondas dessa nova moda. Primeiro foi o show da Miss Kittin, musa do estilo. A menina agitou a Lapa no último dia 30 – no exato momento em escrevo esta resenha. E tem também esse álbum bizarro do Peaches. Aliás, da Peaches: uma canadense, sua groovebox 505 e alguns samples toscos de guitarra.


O disco foi produzido na alemanha, terra natal de toda eletrônica podrera. A capa já diz ao que veio: aquele close visceral na perseguida da cantora, por baixo de um shortinho de couro rosa. Se você se assustou, tome cuidado ao abrir o encarte.


O conteúdo também não nega fogo. Batidas cruas, sem arranjo nenhum, com viradas e breaks simples. Cansa, mas não é repetitivo – cansa porque é desgastante, mesmo. O vocal é sujeira pura, a mulher faz um rap tenso e chapado, completamente disconexo do resto da música. Parece que ela está falando ao vivo, por cima de bases pré-programadas. Mais ou menos como seria a Mãe Loura depois de muita farinha colombiana.


O hype são as letras pornográficas. O que quer dizer: é só aparecer uma baranga boca-suja que o velho mundo fica em polvorosa. Não dá pra negar que essas coisas causam frisson nos moderninhos recalcados, mas, pra gente que tá acostumado com Chatuba de Mesquita, Serginho e afins, esse negócio de “sucking on my titties like you wanted me” não assusta.


Eu não vou nem dar exemplos, mas se vocês passarem sexta à noite na frente do Baile do Rio Branco, aqui na Grande Vitória, vão ver porquê. Em termos de putaria, dirty beats e dirty samples, nós estamos anos-luz na frente de qualquer europeu. Enquanto eles estão vindo com os pêssegos, nos temos cá uma farta salada de frutas com mamões, mangas e – hum!.. – jacas.


Faixas
Fuck the pain away
- Bumbo poderoso, caixa no contratempo, palminhas e um baixo essencial. Soa familiar? Um belo exemplar do pancadão chique. Nada me tira da cabeça que ela canta o refrão com nariz completamente entupido.


Rock Show - We came to see a rock show! Bateria punk, guitarras consistentes e gritos de guerra. Ramones de saias. Aliás, shortinhos de couro.


Diddle my skittle - Loops industriais e uma letra nonsense que mais parece poesia concreta (ou alguma brincadeira de criança). Esquisitíssima.


Lovertits - Housey 4/4 com o melhor groove  do álbum, meio Fogma (Groove Armada), super distorcido. E tem um riff de teclado legalzinho também.


Suck and let go - Bizarra, cheia de texturas espaciais, distorções, scratches e grooves subliminares. O vocal é (realmente) um mero detalhe.

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