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Crítica: um caso bem-sucedido de simbiose homem-máquina

Entre os agradecimentos de Ming Star existe um no mínimo curioso, à empresa Apple Computer. Mas não é nenhum enigma, patrocínio nem jabá. Acontece que King of Woolworths nada mais é que a dupla entre o produtor/engenheiro sonoro Jon Brooks e seu iMac – sem o qual nada seria possível.


Jon começou fazendo música e lançando na internet de forma independente. De repente o sucesso veio e – presto! – eis que é lançado um disco de estréia por uma grande gravadora. Mas seu esquema de produção ainda é o mesmo, caseiro, na total liberdade de seu quarto. Uma rápida ouvida e a gente tem certeza que encontrou um caso bem-sucedido de simbiose homem-máquina.


As faixas exploram todos os climas possíveis de se conseguir ao redor de 90 BPM, através de arpégios, ora melódicos ora ácidos, baixos preguiçosos e efeitos sonoros variados. Batidas lounge/downtempo dão o ritmo da cena. Mas não pense em sair requebrando o quadril. É música-cabeça. Cabeção.


Não é exatamente IDM, nem Abstract. Na verdade, Ming Star é organizado como a trilha sonora de um filme imaginário, com direito a um main title e um end credits. E, apesar de a espacialidade do som ser pouco explorada, cada música realmente cria uma cena visível.


Teclados relaxantes batem de frente com sons insólitos, ruído, baterias ensandecidas: tudo contribui para a tensão cinematográfica do álbum. Um ponto essencial desse mise-en-scene são os diálogos, inquietos, assustadores. Ao ouvir, prepare-se para alguns momentos apavorantes. E, faça o que fizer, não rode o disco ao contrário.


Faixas
Kentish Town – O disco não permanece tranquilo nem até o fim da primeira música. Os loops de piano são logo soterrados por uma bagunça percursiva meio big beat.


Stalker Song – Essa anti-música cria uma ambiance Hitchcock perfeita. Sons esquisitos, vocoders enigmáticos, e um diálogo tenso que vai se tornando cada vez mais sinistro a medida em que a faixa nos envolve. Impossível escapar.


Colcannon – Eletro-Tech com bateria orgânica, grito de guerra rasta e acordes histéricos lá nas profundezas. Ei, é sério. E bem legal.


To the Devil a Donut – Outra cena de filme de terror, dessa vez com Christopher Lee fazendo as vezes de capeta. Menos angustiante que a primeira, dá até pra dançar.


The Watchmaker’s Hands – Sentiu falta da Björk? Essa musiquinha suave, com xilofone e sininhos, parece que foi feita pra Islandesa.

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