Crítica: Os tribalistas e o pilar que não sustenta
Realmente, após assistir ao Bagulhinho Bom II, eu entendo porque os tribalistas se autodenominam anti-movimento. O especial exibido pela Globo, na madrugada de segunda-feira, deixaria até os fãs mais ardorosos de Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes com sono. Se é que se pode dizer que existe ardor por parte dos seus fãs.
Nada de novo: Carlinhos Brown parece ter se utilizado de brinquedos dos filhos para compor a percussão. Marisa Monte e seus óculos de vespa e turbante, relembrando a fase Davi Moraes. Até que num trecho achei que estava assistindo a mais nova banda do Zé Ceguinho: todo mundo com óculos escuros, cantando “O amor é feio”. Com a metafórica cena dos óculos, eles pouparam a frase óbvia. O amor é cego, claro!
Os arranjos bem acabados e estimados parceiros como Dadi Carvalho (ao que tudo indica ser o leãozinho de Caetano), Cézar Mendes e Margareth Menezes, que participa em uma das faixas, ajudaram na técnica.
No conteúdo, percebe-se a provocação ao individualismo que se instalou na atual sociedade. Fica subentendido que o álbum foi feito para eles próprios e só. Mas talvez, e digo talvez, tenha havido uma apelação mercadológica, com direito a hit para o próximo Natal, como a canção Mary Cristo e a menção ao patrocinador do programa, uma marca de chinelos, em outra delas.
Em títulos como “Carnavália” e “Carnalismo”, fica explícita a alusão ao tropicalismo, mas…
“Os tribalistas já não querem ter razão/ Não querem ter certeza, não/ Não querem ter juízo nem religião/ Os tribalistas já não entram em questão/ Não entram em doutrina, em fofoca ou discussão/ Chegou o tribalismo no pilar da construção”.
E é nessa música anti-manifestação de qualquer coisa – tiro o corpo fora – que eles dizem abusar dos óculos escuros e dos colírios. Seria o sol seu vício?
No final, para o bem de quem acredita na criatividade solo do trio, a música-manifesto diz que o anti-movimento vai se desintegrar no próximo momento…ótimo…que venham mais movimentos, por favor!