Crítica: o novo disco de Badly Drawn Boy
Desde antes de lançar seu primeiro disco, The Hour of Bewilder Beast (2000), Badly Drawn Boy já era um garoto prodígio queridinho da mídia. Seus EPs causaram frisson no mercado fonográfico. O inglesinhos fã de Pixies era sofisticado, eclético, cool: uma encarnação da música jovem alternativa.
No entanto, embora ansiosamente aguardado pela crítica especializada de algures (os cânones, sabe? – indie tem dessas coisas), seu segundo disco Have you fed the fish? corre sérios riscos de passar despercebido pelas prateleiras brasileiras. Por um motivo simples: o disco é muito folk pra quem se amarra em britpop barato e curte usar franja.
Sim, o rapaz tem um sotaque forte. Não na fala, quê isso. Sotaque musical, um pé no popularesco, no kitsch, no (terrível?) humor inglês – que produziu tanto Monty Python quanto Mister Bean. Dá pra notar pela colagem nonsense do encarte do disco, onde a proposta é procurar cinco peixinhos dourados (lembram do Wally?). Aliás, sem esforço nenhum, você consegue encontrar até o Groucho Marx.
As referências são várias e variadas. Dá um incrível sabor agridoce aos arranjos caprichados e às belas melodias, mas pode incomodar quem não estiver acostumado a um pouquinho de tempero.
Faixas
Coming into land - As faixas de introdução normalmente são mais ousadas que o resto do disco, e essa aqui não foge a regra. Uma sketche nonsense que desbanca num “tema principal” sinfônico, bem animado.
I was wrong - Essa minúscula faixa de um minuto e dez é a típica bossa nova de inglês: um piano e um violão lamentosos e retos como uma tábua sobre a batidinha sincopada.
The Further I Slide - Balanço, baixo e metais, mas nada de discoteca fechadas. A faixa é bem open air, com texturas sutis de guitarra e um refrão tchruru, pra assoviar.
Using your feet - Um rock dançante, com vocais Beck e riffzão violento.
Tickets to what you need - Eu até agora não consigo entender o que leva uma pessoa a fazer uma música alternando entre blues doméstico e vaudeville (música de cinema mudo) sem perder o pique. Mas ficou super.