Crítica: “Longo Caminho” saiu “melhor do que a encomenda”
Dadas as circunstâncias que envolvem esse lançamento, a tendência natural é, inicialmente, buscar nas letras de “Longo Caminho”, álbum que marca a volta dos Paralamas do Sucesso, versos como “Já não consigo não pensar em você” ou “Já não sou mais quem era antes”, que se encaixam com o que aconteceu na vida de Bi Ribeiro, João Barone e (principalmente) Herbert Vianna nos últimos dois anos, mas que nesse caso não passam de coincidência, uma vez que todas as letras, à exceção de “Hinchley Pond”, foram escritas antes do acidente sofrido por Herbert.
Atendo-se às músicas, pode-se dizer que “Longo Caminho” segue mais ou menos a linha dos dois álbuns de inéditas que a banda lançou na segunda metade da década passada (“9 Luas” e “Hey Na Na”), sem as experimentações com a eletrônica do segundo: dosa, na medida certa, rocks melódicos e crus (que aparecem mais nesse disco, devido à opção de fazer músicas praticamente sem teclados e metais), e traz uma maioria de letras sobre relacionamentos.
Se limitado da primeira à sexta faixa, o álbum poderia (surpreendentemente) ser considerado um dos melhores da banda. “Calibre”, cuja interpretação de Herbert dá a falsa impressão de que ele está se esforçando mais do que deveria para cantar, tem cara de clássico: letra impecável e instrumental marcante; “Seguindo Estrelas” desperta a sensação “já ouvi isso antes em outro disco dessa banda”, mas não deixa de agradar; A faixa-título é um quase-reggae, desses que só os Paralamas sabem fazer; “Soldado da Paz” já tinha a ótima letra conhecida do público (a música foi gravada anteriormente pelo Cidade Negra), mas aqui ganhou uma versão mais “raivosa”; a pop “Cuide bem do seu amor” tem mesmo cara de novela; e “Amor em vão”, com guitarra dedilhada delicadamente e um corinho gospel ao fundo, é belíssima.
Abrindo o “segundo bloco”, “Flores do Deserto”, dedicada a Marcelo Yuka, é bem razoável. “Running on the spot” (de Paul Weller) é uma das poucas canções com sonoridade mais “prá cima” do disco e “Flores e Espinhos” tem uma guitarrinha bacana e potencial pop. “La Estácion” (com percussão aparecendo mais e solo de metais) é fraquinha e a bela “Hinchley Pond”, que fecha o disco, é a canção mais “Beatle” que os Paralamas já fizeram.
Talvez o trabalho mais esperado do ano, “Longo Caminho”, ainda assim é, no fim das contas, uma grata surpresa para os muitos (incluindo fãs e este que vos escreve) que não acreditavam que os Paralamas voltariam a fazer músicas acima da média geral do rock brasileiro. E o único “porém” do álbum nem se deve a banda: provavelmente por conta da tecnologia holandesa (logo, paga em dólar) de proteção contra cópias digitais que a EMI vem colocando nos CDs que lança por aqui, o álbum está sendo vendido nas lojas por, em média, R$ 28,00.