Crítica: Falta pimenta à Squadra
A mesma estampa na capa do disco é o link para a newsletter de Frank Kozik (www.fkozik.com), responsável por assinar trabalhos para bandas famosas como Red Hot Chilli Peppers. Porém, qualquer semelhança aos californianos infelizmente não transborda das pinceladas artísticas do ilustrador. O rock da mineira Squadra, recém-lançada pela major Sony Music (selo Epic), é básico e retrô.
Quatro integrantes, nos vocais uma voz feminina, embalando as dez músicas, num misto de Leigh Nash (Sixpence)- Dolores Burton (Cramberries)- Patrícia Coelho (Casa dos Artistas!). Acordes gastronômicos para uma mesma receita: versão, releitura e muito pop-rock apaixonado, notável em “Dentro de você’’ (“eu sei/ quem está dentro de você agooora não sou eu”) de um Rodrigo Leão mais enfurecido que tan-tan.
Em algumas canções, a nem tão leve impressão de já ter ouvido os mesmos acordes, como na música de entrada “Na medida”
“Estou deixando a vida me levar
Na balada.
Na medida.
Na porrada.
Na loucura”
Esse pode ser o tempero dos jovens em meio ao descompromissável mundo moderno, mas falta aquela pimenta, aquele cheirinho verde à banda, que até chega com a pop homônima de Lulu Santos, “Tudo Bem”, sobretudo pela letra apaixonada, um manifesto de auto-anulação. Triste, mas real.
“E se você não gosta do meu querer…eu não me importo, quero estar mesmo com você.
Você devia gostar de mim.”
O arranjo de Nando Reis, produtor do disco ao lado de Liminha, para “A jóia rara” poderia receber um refrão melhor que “eu sei que tudo fica certo quando você está por perto”. Em a “A mesma cena” existe até uma preocupação social em questionar o comportamento de motoristas e vendedores (de chiclete) no semáforo vermelho: “Esqueço sempre de comprar, mas amanhã eu vou levar e faço sempre a mesma cena.” E logo no refrão ela diz: “Hoje é só um dia normal.” Pergunte então por quê?
“Porque é só um dia normal.
E se der vamos a pé.
Dizem que tem um filme legal.
E se der vamos a pé passear.
Dizem que tem um filme legal”
Av. Paulista ou Afonso Pena? Tanto faz como tanto fez a releitura raivosa de “O Amor”, que apenas serve para relembrar a inimitável Secos & Molhados (Gerson Conrad, Ney Matogrosso e João Ricardo), porque o arranjo original é impecável. Melhor ouvir a canção dos Joões Ricardo e Apolinário na compilação produzida por Charles Gavin. Já a versão para “Another Lonely Day” de Ben Harper, “Dias Longos” em português, é tudo de bom, porque é de Ben.
Total: 21,50. Ou seja, pouco mais de 2 reais cada canção. Preço de bovino para ave. Ave, sem pimenta.