Crítica: CD do Moebius traz som pesado e maduro
Os cariocas do Moebius já haviam aparecido aqui antes numa resenha do promo Primeira impressão, que era apenas uma amostra do CD Passando o som. Como naquela época, a impressão não podia ser melhor. O som do grupo é um metal filiado às melhores coisas que apareceram nos anos 90 – especialmente aquele pessoal pré-nu metal e pré-stoner rock, que quase todo mundo que tinha entre 12 e 20 anos na década de 90 aprendeu a admirar. E – detalhe – misturando coisas raras de se achar em discos de bandas metálicas, como as boas letras de “Me espera” e “3 palavras” e até mesmo a poesia de Cecília Meireles na pesada “Ou isto ou aquilo” (sim, aquele poema que todo mundo recitava na escola, com direito à citação de “Set the controls for the heart of the sun”, seminal música do Pink Floyd pós-Syd Barrett).
Além das letras, duas outras coisas servem para dar personalidade à banda: o fato de várias faixas terem percussão (o que deu um suingue todo característico ao grupo, mas nada a ver com as armações de Max Cavalera & cia, porque a, digamos, “brasilidade”, pouco aparece no som do grupo) e os vários riffs que se encontram misturados nas 11 músicas do disco, misturando repetições dignas do Helmet e toques indianos – em certos casos, só falta uma cítara. A percussão é usada na maior parte dos casos para dar um ar tribal às músicas, como na já citada “3 palavras” e na percussiva “Enlouquecendo”, que já era uma das melhores faixas do promo, lembrando o Soundgarden da fase Superunknown. “Juro”, por sua vez, é nada menos que uma espécie de ragga-metal – enquanto “Talvez” deixa transparecer influências de reggae. E, na boa, vai ser difícil alguém que curta som pesado não se apaixonar a primeira vista pelo peso soturno e suingado de “E agora?” (com um riff que lembra um tema de filme policial).
Independente, o disco tem produção, mixagem e qualidade de gravação excelentes – não falta peso, imprescindível no caso de uma banda como o Moebius, e várias faixas dão a entender que necessitaram de vários acertos no estúdio até que a mixagem ficasse 100 % perfeita (como é o caso de “Autoridade”, metal-étnico cheio de riffs e porradarias de percussão, e da desolada “Era para eu estar feliz” – essa, por sinal, daria um bom clipe, assim como quase todo o disco). Finalizando, ainda tem a versão da banda para “Ando meio desligado”, talvez a melhor regravação que o standard mutante já recebeu. Passando o som é um disco completamente maduro – o que não surpreeende quem já conhecia pelo menos uma música dos caras – e faz o Moebius se destacar no rock carioca. Conheça a banda no site www.moebius.kit.net.