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Com simplicidade, Mark Knopfler faz bom disco solo

Se pudermos definir em uma palavra o guitarrista Mark Knopfler com seu mais recente disco, “The Ragpicker’s Dream”, esta seria simplicidade. Longe da superestrutura que compunha o Dire Straits, Mark tenta demonstrar algo mais pessoal e descomprometido, tendência seguida desde seus primeiros trabalhos solos (“Golden Heart” e “Sailing to Philadelfia”).


Diante disso, “The Ragpicker’s Dream” torna-se mais intimista e até mesmo mais maduro (até o visual “tiozão” com faixinha na cabeça foi descartado). Agora o violão de aço é o principal instrumento – a peculiar guitarra de Knopfler continua, porém com menos destaque – e todas as composições foram pensadas a partir dele. A sonoridade recebeu bastante contribuição do som sulista norte-americano e da influência inglesa, representada principalmente pelo folk, música irlandesa e escocesa. Além do violão marcante e da guitarra como mais um instrumento, temos uma boa cozinha com batera, baixo e órgão (esses 2 últimos valorizando timbres vintages; ponto positivo) em concordância com a proposta.


As letras também refletem a fase citada acima: a maioria das canções são fruto da observação cotidiana de Mark sobre (em sua maioria) fatos corriqueiros ou relatos que reflitam certa nostalgia. É certo que em alguns momentos tal melancolia deixa o trabalho com “pegada insuficiente”, mas o todo é bem resolvido e até, diria, autêntico. Como intérprete: nenhuma novidade (é uma crítica, ele poderia crescer no disco).


Para destacar: “Why Aye Man” (que abre o disco) é um folk-rock que deixa o ouvinte com uma primeira impressão excelente, empolga. Em “Hill Farmer’s Blues” e “Fare Thee Well Northumberland” (essa com uma gaita bem legal), Mark trabalha com texturas que funcionam bem num clima mais bluesy, assim como “Marbletown” que é um blues rápido em voz e violão. Em “Quality Shoe” e “Daddy’s Gone To Knoxville” temos uma aproximação com o ragtime (ambas ficaram boas). Os momentos mais lentos ficam por conta de “A Place Where We Used To Live” (balada com um leve acento latino) e a faixa-título (em ¾, soa semelhante a uma canção de ninar), ambas bonitas. A principal reclamação vai para a fraca “You Don’t Know You’re Born” que pecou justamente por se parecer uma música retirada de um disco do Dire Straits; ficaria muito superior se fosse gravada mais crua.


No geral, “The Ragpicker’s Dream” é um bom disco que (exceto por algumas escorregadelas) agrada pelas boas referências e pela faceta meio caipira de Mark, sem soar clichê.

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