Coletânea Pernambuco em Concerto aposta na diversidade
Pernambuco em Concerto é um projeto que já vai para sua quarta edição, com sucesso, diga-se de passagem. Sempre homenageando um folguedo diferente, por suas capas já passaram caboclos lanceiros, caretas de Triunfo e personagens do Cavalo Marinho. Dessa vez, quem dá as honras aos treze grupos participantes é a tribo dos caboclinhos, manifestação típica dos índios com influências africanas, muito presente durante os carnavais onde desfilam marcando os passos ao som de preacas, gaitas, mineiro, tarol e bombos. Uma das grandes características dessa coletânea é que eles conseguem manter a diversidade com responsabilidade. Claro que a efervescência de criatividade pernambucana contribui muito. Os lançamentos de todas as coletâneas são compostos sempre por festivais ao ar livre, seminários e esse ano contou também com um mercado cultural.
As canções soam naturais, a produção toma esse cuidado. Em muitos grupos vê-se a falta de intimidade com o estúdio. Eles vêm das cidades interioranas como Nazaré da Mata, Caruaru, Goiana, Serrita e Petrolina. Além desses, o Pernambuco em Concerto também conta com bandas que mostraram seus trabalhos fora do pais, como é o caso das Comadre Fulozinha, formada só por mulheres. Elas cantam músicas no embalo do forró e coco, com uma bela voz africana do vocal de Issar. Ainda na linha da regionalidade, destaque para o forrozeiro Arlindo dos 8 baixos, uma pessoa que dedicou sua vida ao conserto e afinação de sanfonas, por muito tempo foi ele quem cuidou das Sanfonas do mestre Luiz Gonzaga. Hoje, aos domingos, é imperdível o forro que faz no quintal da sua casa, no bairro do Dois Unidos, periferia do Recife. Legal também Samba de Véio, um ritmo de coco empolgante, que não deixa ficar parado. Outra, o Coral de Aboios, fenomenal! É um canto feito pelos vaqueiros do Sertão onde as vozes são postadas em uma melodia marcada pelos sons das vogais.
A África produções, idealizadora e produtora do projeto, apesar da queda pelos sons mais tradicionais, dá abertura a novas bandas de fusão, que permeiam entre o maracatu rural e o de baque solto, rock, Hard Core e reggae, como é o caso da Ticuqueiros, da Zona da Mata, Mantingueiros, Anhuma, Nor k e Favela Reggae. Em especial, Digital Groove, uma das que prova que Pernambuco também produz música eletrônica de qualidade. Mas, apesar de toda essa pluralidade cultural e da boas iniciativa, de alguns produtores pernambucanos, a cena musical local não oferece condições para os músicos e bandas, apenas algumas, poucas, pouquíssimas, duas ou três, se destacam e tem espaço na mídia. E bom acreditar e investir, financeiramente. A cultura precisa e agradece.