CD novo do Coldplay tem momentos legais, mas…
“Qualé a do rock inglês?”, perguntava uma chamada de capa de revista nos anos 80, acho que da SomTrês. É simples. Assim como qualquer rock de qualquer parte do mundo, o rock inglês também tem suas imagens e seus estereótipos dos quais não se desfaz. Entre eles estão: 1) Aquele velho clipzinho com John Lennon – que não era pianista – tocando “Imagine” no piano; 2) Elton John num especial de TV dos anos 70 tocando “Goodbye yellow brick road”; 3) A capa de What you are going to do with your life?, do Echo & The Bunnymen, com aquela atmosfera de dúvida e melancolia; 4) Morrissey e The Smiths, o mito; 5) O potencial melódico, o balanço e a imagem alegrinha dos Beatles; 6) O sofrimento eterno de Ian Curtis. Isso entre outros.
No caso do Coldplay, eles juntam isso aí tudo. Claro, ficam de fora cenários importantes do rock de lá (a não ser que você queira levar em conta coisas como o punk rock, a sujeira arrumadinha do Jesus & Mary Chain, o dancerock do New Order, sem falar em The Who, Stones e Iron Maiden, que passam longe do estilo do grupo). Todas essas facetas encontraram seus seguidores e criaram estilos à parte no rock da Inglaterra. O Coldplay, que é tido por muita gente como sendo uma imitação do Radiohead, nem lembra tanto assim o estilo da banda de Amnesiac, mas dá mostras às vezes de ser uma espécie de desvio ultra-pop do som deles.
O grupo é capaz de criar boas canções (como prova o belíssimo hit “In my place” e a faixa de abertura “Politik”), mas não consegue deixar de lado um clima banal, repetitivo, meio de já-ouvi-isso-em-algum-lugar. Não que isso seja mau sinal (certas bandas conseguem criar carreiras inteiras em cima de clichês, fazendo bons discos), mas no caso do Coldplay – e no caso específico do CD novo – tem hora que atrapalha.
O disco inteiro é contruído em cima de músicas leeeeentas (beeeeem leeeeeentas) e baladinhas de violão e piano, com interlúdios de cordas e bateria estilo “tocar-bateria-é-um-saco”. Em “Daylight”, rola um diálogo interessante entre as cordas e a guitarra slide. “Warming sign” é um rock calminho com noção melódica herdada de Echo & The Bunnymen. “God put a smile on your face” inicia com uma violada meio grunge e depois vira um rock legal. Volta e meia uns fantasmas pinklfloydianos rondam o disco, como em “A whisper” e nos vocais de “Politik”, assemelhados aos de David Gilmour. Aí você vai me perguntar: “mas afinal de contas, o disco é bom ou ruim?”. Digamos que, mesmo que várias músicas sejam bem legais, depois de um certo tempo as coisas começam a ficar muito repetitivas. Quem está acostumado a assistir MTV diariamente pode até brincar de inventar, mentalmente, clipes com as faixas: quase sempre dá para imaginar aquela atmosfera “perdida”, com imagens desconexas, passeios de carro por estradas desertas, melancolia, solidão, etc.
Talvez seja a falta de uma cara própria. Talvez seja o excesso de melodias bonitinhas e baladas sonolentas – que fazem parte do estilo do grupo e encontram seu ápice na faixa-título do disco, meio legal, meio pentelha. O fato é que A rush of blood to the head, em alguns momentos, faz lembrar aquele velho ditado da vovó que dizia que doce demais enjoa. Mesmo que o grupo tenha momentos ótimos no disco, tem hora que é chato.