CD novo continua renovando o som dos Engenheiros do Hawaii
Quem gosta de implicar com os Engenheiros até que não tem tido muita munição nos últimos anos – com exceção da inacreditável capa do disco passado, Surfando karmas & DNA e do verdadeiro culto à personalidade gesingeriana que vem se tornando os EngHaw com o passar dos tempos, quase transformando o cantor numa espécie de Zé Ramalho/Raul Seixas gaúcho. O velho grupo de Humberto Gessinger vem se renovando bastante e a nova formação – Paulinho Galvão na guitarra, Bernardo Fonseca no baixo e Gláucio Ayala na bateria – tornou o som de Gessinger bem mais pesado do que na época de discos como Ouça o que eu digo, não ouça ninguém. E, como compositor, Humberto só parece melhorar – isso sem falar que, em época de Bush vs. Saddam, o gaúcho está como gosta.
Agora, uma pergunta se faz necessária, até pra quem é fâ da banda: há lugar para os EngHaw fora do seu fâ-clube? Vamos combinar que discos como Surfando karmas e o novo Dançando no campo minado mudaram muita coisa no front da banda – a formação anterior, que gravou o excelente Humberto Gessinger Trio (96), o bom Minuano (97) e o fraco Tchau radar (99), por pouco não atirou os EngHaw num mar de pieguice. Humberto Gessinger, que não é bobo nem nada, deve ter percebido isso, mudou a formação da banda pela (já perdi a conta)ª vez e ainda por cima entregou a Paulinho Galvão e Bernardo Fonseca a responsabilidade de dividir com ele boa parte das composições dos Engenheiros, algo que não acontecia nem na época de Licks e Maltz. Humberto, que sempre sonhou em soar datado, dessa vez soa datado como o rock oitentista derivado do Police (“Até o fim”), o grunge a la Pearl Jam (“Na veia”), o rock alternativo dos 90 (“Fusão a frio”) e o próprio Engenheiros de 85/86, na faixa-título. Até Carlos Maltz dá as caras no disco, nas duas versões de “Segunda-feira Blues”. E as melhores faixas parecem ser “Camuflagem”, “Duas noites no deserto” e “Outono em Porto-Alegre”.
Dançando no campo minado, mesmo sendo conciso ao extremo (onze músicas em meia hora) vai deixar os fâs felizes pra burro, tanto por causa das boas músicas e arranjos da banda quando pelas sempre atualizadas letras de Gessinger – confira a angustiada “Dom Quixote”. Humberto Gessinger só não precisava gravar um ska-punkzinho (na faixa-título) nem um countryzinho refugo de Bob Dylan (“Segunda-feira blues II”, com direito a gaita mal tocada). Fora isso…