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CD eletroacústico de Bebeto é legal mas tem algumas falhas

Nos anos 70 e 80, Bebeto fez parte daquela geração do samba que era considerada mais próxima da música brega, de rádio: Luiz Ayrão, Benito di Paula, Wando (antes de virar obsceno), Antonio Carlos & Jocafi, etc. Estigmatizado como imitador de Jorge Ben, incomodou muito mais a crítica da época do que o próprio Jorge, que apareceu até em fotos com ele. Um dos pioneiros na mistura de rock, R&B, soul e samba, Bebeto consegue ser responsável, ao mesmo tempo, pela existência de Max de Castro, Planet Hemp, O Rappa e Alexandre Pires.


Suinga Brasil mostra às novas gerações um pouco do trabalho de Bebeto e ainda serve como uma Bíblia do samba-rock. Bebeto assume a influência de Jorge Ben e regrava músicas do ídolo, homenageia Tim Maia com a regravação de “Gostava tanto de você” (música pioneira na mistura de samba e rock, feita por um certo Edson Trindade), mas o legal mesmo está nos antigos sucessos do cara, que tocavam direto no rádio há anos atrás. Só pela presença de Luiz Wagner, grande nome do samba-soul, o disco já vale: Luiz escreveu a sacana “Cutuca a nega”, um dos primeiros sucessos de Bebeto, censurado e gravado com o nome de “Segura a nega”, e “Como?”, que já tinha sido gravada por Paulo Diniz nos anos 70 (e até por Netinho – o do axé – nos anos 90). Bebeto toca violão o disco inteiro e os antigos sucessos vêm revestidos com roupagem eletrônica – rolam até umas programações feitas por Jairzinho Oliveira – e uns raps feitos pelo pessoal do Eletrosamba. Só que… mesmo que as canções de Bebeto sejam sempre muito legais, o resultado sai meio desigual: por vezes as músicas ficam muito parecidas umas com as outras, e em muitos momentos fica tudo muito burocrático, como o disco fosse uma daqueles produções feitas matematicamente para estourar. Bom, pelo menos o cara não caiu na armadilha do acústico…


O disco ainda tem participações de alguns “filhos espirituais” de Bebeto. Alexandre Pires, que só não é o rei atual do samba-rock porque não quer, manda bem em “Hei, neguinha”, numa versão até mais animada que a original. A deslocada Adryana Ribeiro (aquela mesma, da Rapaziada), aparece em “Fio da navalha” e dá a impressão de que ela e Bebeto nem se encontraram no estúdio. William Magalhães, da nova Banda Black Rio, também dá suas contribuições. Mesmo com a produção meio bisonha em alguns momentos, o estilo e violão de Bebeto estão intactos, graças a Deus: ele homenageia o próprio suíngue em “Sambarockeando” e revê sucesso atrás de sucesso (“Objeto de adorno”, “Tudo que passamos”, “Olhos de blue jeans”, “Essa menina”). Mas seria realmente melhor um de inéditas. Ou pelo menos releituras que não abusassem do convencional.

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