Cantora estréia bem com “A música de Paulinho da Viola”
Imagine-se no Rio de Janeiro e, afoito por ver algumas das coisas que a Cidade Maravilhosa oferece de melhor, o leitor fosse à Lapa ou à Santa Teresa em busca das melhores rodas de samba e, chegando num bar da região, encontrasse o recinto lotado em silêncio apreciando com atenção uma cantora tímida desfilando um repertório irrepreensível. É esse o clima encontrado em “A Música de Paulinho da Viola – Vol. 1 e 2″, de Teresa Cristina e Grupo Semente.
Apesar de ser o primeiro CD de Teresa Cristina, ela já goza de credibilidade entre os sambistas cariocas, seja por já freqüentar as noites como cantora profissional desde 1998, seja pelas pesquisas e projetos musicais aos quais prestou apoio. Sua voz é discreta, porém sua interpretação tem personalidade; mérito dela em não querer parecer a “nova” Clara Nunes ou Nara Leão (apesar de estar mais próxima desta última).
Quanto ao grupo que a acompanha (mais os músicos convidados): eles não são virtuoses, mas fizeram um trabalho muito bom junto ao produtor Paulão 7 Cordas. A base é o que manda a tradição, pandeiro, surdo violão e cavaquinho; outros instrumentos entraram conforme o arranjo: mais percussão, baixo, violão de 7 cordas, trombone, clarinete, flauta, bandolim e até um acordeon – todos colocados com muito bom senso.
Falemos do repertório: independente da escolha ser da intérprete, do grupo ou da gravadora (lembremos que Paulinho da Viola está comemorando 60 anos agora em Novembro), foi um tiro na mosca! As composições de Paulinho são pérolas da MPB e a forma como o trabalho foi concebido valorizou as canções, tanto as letras requintadas como suas belas melodias. Até engraçado que algumas músicas trazem uma sonoridade mais próxima do choro do que do samba tradicional, isso pelo acabamento dado aos arranjos; cito “Minhas Madrugadas” e “Para Um Amor No Recife”, além das instrumentais “Choro Negro” e “Inesquecível” – e isso não é uma crítica.
Das 28 faixas que compõem o trabalho, somente “Meu Mundo é Hoje (Eu Sou Assim)” não é composta por Paulinho da Viola, todavia foi dele um dos principais registros da canção e por isso abre o primeiro CD. Ainda falando nele, o sambista participou cantando em “Depois de Tanto Amor”. Ainda houveram outros convidados: Elton Medeiros (“Tudo se Transformou”), o grupo Época de Ouro (nas chorosas “Samba do Amor” e “Para Ver as Meninas”) e, como não deveria faltar, a Velha Guarda da Portela (em “Coisas Banais” e “Pode Guardar as Panelas/Perdoa”). Também tem um dos componentes do Grupo Semente, o percussionista Pedro Miranda, cantando a impagáveis Conversa de Malandro/Responsabilidades, única faixa (além das 2 instrumentais) onde não há a participação de Teresa.
Também nota-se a ausência das famosas “Dança da Solidão” e “Sinal Fechado”, isso por opção de Teresa – duas citações da moça: “como gravar isso depois da maneira que Marisa descobriu de cantar a música?” (sobre “Dança da Solidão”); “o Paulinho e o Chico já fizeram história com ela” (a respeito da segunda) – o que, sinceramente, não influenciou no resultado final. Teresa e seu grupo estrearam com o pé direito!