Bidê Ou Balde lança um dos melhores discos de 2002
Sou obrigado a confessar que até escutar esse disco, tinha um certo preconceito contra essa banda gaúcha. O primeiro disco deles me soou caricatural demais e até infantil em vários momentos, o que acabou me afastando do som dos caras. Bastou um tempinho para eu reparar que isso não passava de babaquice: Outubro ou nada, novo disco do Bidê, é um dos melhores trabalhos de pop-rock lançado em 2002. Tudo o que realmente faltava no primeiro disco está aqui: coesão pop, peso, letras melhores… O Bidê, que já tinha uma aparência meio B-52s mesmo, transforma-se numa banda new-wave (a faixa “Hollywood 52″, com tecladinho estilo “Legal tender”, prova isso), só que com guitarras pesadas e alguns toques psicodélicos. Rolam até uns climas assumidamente retrô, como na vinheta “Ímpares fantásticos”, com programação eletrônica e tecladinho anos 80.
Ouvindo-se o disco de uma sentada só, a primeira coisa que vem à cabeça é que o Bidê está se transformando numa grande central pop, com influências de Beatles, Mutantes (é só verificar a orquestração meio George Martin, meio Rogério Duprat, da valsinha de ninar “Soninho” e de “Cores bonitas 2″), rock australiano oitentista (a banda recebe um Hoodoo Gurus rápido em canções como “Microondas” e “Bromélias”), só que tudo costurado pela personalidade já formada do grupo. O Bidê insere técnica no indie rock em “Adoro quando chove” (fechada com uma espécie de “Ritmo da chuva” peculiar, em homenagem ao falecido New York Doll Johnny Thunders), dá o devido valor aos teclados da bela Kátia em quase todo o disco (destaque para “Dulci” e para a já citada “Bromélias”) e chega até a criar roquenrols anos 70, com acento glitter. “Ahá”, uma das melhores do disco, até começa com um riff que ameaça citar “What do you want from me”, do Monaco, mas depois ganha um clima que lembra bandas como Shocking Blue, ressaltado pelo refrão e pelo corinho. Isso sem contar a alma beatle de “Não adianta chorar” e seu interlúdio de metais.
Duas músicas, no entanto, se destacam e têm que tocar no rádio de qualquer jeito: “O antipático” é um punk-metal surfístico, daqueles de aparecer no Esporte Espetacular em reportagens à beira da praia – aliás, o refrão também é espetacular: “olha como eu estou cagando pra o que você irá dizer/olha como eu estou andando pra bem longe de você”. Já a pesada e irônica “O aeroporto” é a canção pop mais perfeita do disco. Só pra sacanear, a banda ainda conseguiu fazer algumas das letras mais espertas de 2002, misturando psicodelia, relacionamentos e sacanice. Não sei não, mas tô achando que a salvação está aí.