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Asian Dub Foundation: Hip-hop sem fronteiras

“Nós temos um direito, conheça a situação/ Nós somos os filhos da globalização/ Sem fronteiras, só uma verdadeira conexão/ Acenda as luzes da insurreição/ Essa geração não tem nação”.


Esses versos, presentes na primeira faixa do disco “Enemy of the Enemy”, definem o som do Asian Dub Foundation em todos os seus principais aspectos: ativismo político, rebeldia, conscientização e um som que ultrapassa barreiras étnicas, geográficas e, principalmente, musicais.


O ADF surgiu de um projeto de música comunitária em Londres, onde os integrantes, de origem asiática, se juntaram para tocar em concertos anti-racismo. Desde então eles já lançaram três álbuns, sendo que os dois últimos (“Rafi´s Revenge” e “Community Music”) foram aclamados pela crítica mundial, tornando-os famosos na Europa e no resto do mundo.


O novo álbum, “Enemy of the Enemy”, segue com a mistura de dub, reggae, rap, rock e jungle dos álbuns anteriores, e inclui participações inusitadas de músicos de todo o mundo. Entre elas: o guitarrista Ed O´Brien (Radiohead), a cantora Sinead O´Conor, e o cantor Edi Rock (Racionais), numa música cantada em português (!), fruto da vinda do ADF para alguns shows no Brasil.


Esta multiplicidade de estilos faz o som do ADF único; no entanto, também faz com que o disco pareça meio instável. O maior exemplo disso é “1000 Mirrors” que, apesar de bela, parece fora de contexto. Também cabe dizer que a primeira metade do disco é muito melhor do que a segunda, o que é sempre frustrante. Tudo isso, no entanto, parece fazer parte do conceito de “música comunitária” do ADF, e não chega a comprometer a qualidade do trabalho.


Dentre as faixas, destacam-se a pesada “Fortress Europe” (a primeira, e a melhor, faixa do disco, misturando guitarras distorcidas, tecneira, hip-hop, reggae e world music), a dançante “Rise to the Challenge”, “La Haine”, “Blowback” e a instrumental “Cyberabad”.


Quanto às (ótimas) letras, elas tratam de política internacional, da situação dos imigrantes na Europa, violência doméstica e preconceito. O tema mais frequente, no entanto, é a violência, e como ela gera mais violência, jogando o mundo num círculo vicioso difícil de ser rompido. O título do disco faz referência a figuras como Saddam e Bin Laden, os antigos “inimigos dos inimigos” que acabaram se tornando apenas inimigos e passaram a atacar as potências (leia-se E.U.A.) que os apoiaram no passado. E critica a insanidade daqueles que, como George Bush, espalham destruição sem se importar com as consequências.


Um ótimo disco, de uma banda que não tem medo de desafiar fronteiras.

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