Sana Inside » '“Aprendiz”: CD novo (e inédito) de Guilherme Arantes'

“Aprendiz”: CD novo (e inédito) de Guilherme Arantes

Em mais de 20 anos de carreira, Guilherme Arantes conseguiu construir um estilo reconhecível a distância, raro de se encontrar na quase totalidade dos hit-makers brazucas. Fazendo um pop classudo, bem elaborado e difícil de ser colocado em rótulos e gavetinhas, é provável que Guilherme sempre tenha almejado fazer parte do time da MPB ou do rock nacional – coisa que ele já havia tentado em outros discos, chamando Gilberto Gil ou a galera do Barão Vermelho para fazer participações em algumas faixas. Só que o que fala mais alto são obras-primas pop como “O aprendiz de carpinteiro” e o já hit “Casulo”, que vem se juntar a “Meu mundo e nada mais” e “Deixa chover” no rol dos sucessos que Guilherme juntou em trilhas de novelas (faz parte da de Agora é que são elas, que por sinal surpreendeu pelo fato de ter juntado um monte de hit-makers bastardos: tem de Ritchie a Tim Maia, passando por João Donato e Lenine).


Se a eletrônica já aparecia até nos primeiros discos de Guilherme, da década de 80 para cá ele vem lotando cada vez mais seus discos de novidades tecno e programações – às vezes Guilherme chega a se apresentar em shows sozinho, tocando teclados e programando baterias. Se isso facilita por um lado, por outro deixa um certo ar de pasteurização nos arranjos de músicas legais como “Tudo por amor” e “A gente é pra durar”. Aprendiz, mesmo não alcançando a qualidade de alguns discos passados de Guilherme, revela boas canções e prova que o cantor-compositor paulista está longe de ser um criador popularesco e vazio, como querem alguns. Simples como toda a obra de Guilherme, destaca músicas como as ecológicas e quase country “A mata de onde eu vim” e “O mundo pode acabar”, além da quase-bossa “Quem quer mesmo alguém é pra sempre”. Outra boa surpresa é a versão de “Nosso adeus”, balada gravada por Tim Maia nos anos 70 (composta por Beto Cajueiro e pelo gonçalense Paulo Zdanowski).


O romantismo de Guilherme, por muitas vezes visto como brega (babaquice…) mostra-se idealista como nunca, após o cantor ter resolvido se mudar para a Bahia e se dedicar a projetos ecológicos – e, na verdade, as letras românticas de Guilherme têm qualidade 100% superior à de muita coisa que toca e tocou no rádio nos últimos tempos, com a vantagem de não caírem em lugares-comuns. O único problema sério do disco é que o tal namoro com a tecnologia animou o cantor a produzir um remix com “Aprendiz de carpinteiro” – remixes, todo mundo sabe, deveriam ser banidos da música brasileira, porque geralmente dão em abacaxis memoráveis. Fora isso, é mais um bom encontro com a obra pop perfeita de Guilherme Arantes.

© 2008 Powered by WordPress