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Aglomerado: Berimbrown retorna com sua boa black music

O segundo disco do Berimbrown, banda que tem muito a acrescentar ao nosso combalido pop-rock, é muito bom – mas, como se sabe, é complicado inovar no soul nacional, quando se vê que grande parte das inovações no gênero já foram feitas pelos grandes nomes dos anos 70: Cassiano, Tim Maia, Hyldon, Banda Black Rio, Toni Tornado…


O próprio nome do disco, Aglomerado, não mente: várias faixas soam como verdadeiros samples de quase tudo de legal que já foi feito no som black, aqui ou lá fora – tem groovaços numa onda meio Earth, Wind and Fire, balanços que caberiam em discos de Tim Maia e Tony Tornado, vocais que parecem tirados de um disco do Trio (ou Quinteto) Ternura, etc.


No entanto como resistir a um disco que abre com uma vinheta, apropriadamente intitulada “Groove”, que vai logo dizendo: “vamos relembrar os anos 70/ os black saíam no sábado a noite, calça boca de sino…/queríamos dançar, curtir a onda soul”? E desembocando num papo black com citações de Thaíde e de Gerson King Combo? Pois é, o Berimbrown é assim. Passada a onda soul que assolou o Brasil nos anos 70, qualquer banda que queira se dedicar ao som black tem que saber tocar, e muito. Saber construir grooves, fazer melodias simplérrimas com baixo, bateria e guitarra que se transformam em verdadeiros módulos dançantes – algo tipo o que Tim Maia fez em “Rational culture” -, saber improvisar sem levar o público ao tédio e, especialmente, saber falar de amor e negritude sem soar repetitivo.


O Berimbrown, mesmo precisando soar menos tímido nos improvisos (especialmente nas linhas de baixo), mostra que veio para somar – como já dá para notar no balanço de “Black Broder”, que tem até a participação de Thaíde (fazendo um rap-discurso que lembra logo o de “Afro-brasileiro”, do melhor disco da dupla Thaíde & DJ Hum, Preste atenção), e na sacudida “Paciência”, remetendo logo a Tony Tornado e àquelas faixas pouco conhecidas dos discos antigos de Tim Maia. Os caras conseguem adicionar guitarras distorcidas ao som black sem soar como cópia do Rappa ou do Rage Against e já merecem o céu por conseguir unir MPB, black e heavy em “Galope”, uma cover de (tcharam!) Gonzaguinha – sem contar a perolinha romântica “Balada soul”, a capoeirística “Fuzuê” e o protesto suingado de “O tempo”.


Mais: “Dançar é viver”, com participação de Sandra de Sá e metais e cordas de emocionar, bem que poderia ter sido o melhor hit-single de 2002, se o Brasil ainda desse valor a singles e se as “rádios rock” do Brasil não fossem tão cegas e surdas (pra não dizer burras). Ainda no departamento de samples & influências, um baita pecado: Lenny Kravitz é muito legal, influenciou quase todo mundo que une rock & soul, mas “Boca na lata” é “Always on the run” demais, chega a irritar. No mais, nem o excesso de referências consegue fazer com que Aglomerado deixe de um baita disco de soul.

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