Zémaria: alegria e música eletrônica versátil
Abaixo o MusicaCapixaba.com publica duas críticas do disco de estréia do Zémaria, lançado no último mês de julho: a primeira feita pelo colunista do Central da Música Adriano Claret, que ouviu a banda pela primeira vez há poucos dias. A segunda pelo colaborador Marcos Sacramento, de olho no Zémaria desde o surgimento deles em Vitória.
Zémaria: alegria!
A discussão travada no “drum´n´bras” é a mesma de outras cenas musicais: deve-se injetar brasilidade nas composições ou simplesmente botar as idéias em prática menos qualquer resquício banquinho-e-violão?
Zémaria prefere incluir a música de Tom Jobim e Cartola nas faixas de seu álbum homônimo. Inevitavelmente, irão dizer que é mpb para gringo ouvir. Mas, falar isso é cair na esparrela de incluir todos no mesmo saco.
O sexteto de Vitória (ES) privilegia a música dançante antes de descer a ladeira. O grupo se lança bem na eletrônica. Maduro, destina samplers e sintetizadores à causa das pistas.
“Iá!?” é d´n´b acelerador cardíaco. Um sintetizador no início parece aguardar as baterias carregarem. Normalizados os padrões de energia, solta-se a bomba. O terror, no bom sentido, é ouvido quando o refrão explode.
“Vermelha” tem bela harmonia. Fica distante do bafafá subdesenvolvido. “Jardim Camburi” junta numa fornada bossa nova, DJ Patife e Chico Science. “Tá Tudo Esquematizado” põe bpm e ruídos sincronizados a uma voz radiofônica.
A produção ainda não é para gringo ver. Este é um ponto a ser ajustado no próximo disco. Mas o caminho é este: o da alegria.
Zémaria: Música eletrônica versátil
Não há dúvida de que José e Maria são os nomes brasileiros mais comuns. Também não há a mínima dúvida de que eles sugerem humildade e resignação. São nomes que parecem pedir um complemento para soarem mais fortes, imponentes. Zémaria, disco de estréia da banda homônima, contrasta radicalmente com as características sugeridas pelas alcunhas dos pais de Jesus Cristo. O álbum é contemporâneo, sofisticado, globalizado. É música eletrônica versátil, que serve tanto para dançar quanto para ouvir em momentos de distração.
Os arranjos modernos, ricos em texturas psicodélicas, destoam do laconismo das letras, que muitas vezes surgem como meros acessórios ao som do grupo. Os 22 caracteres que compõem os versos de “Alegria”, primeira música do disco, deixam claro que a intenção da banda é comunicar por meio dos timbres sintéticos, oferecendo, dessa forma, múltiplas possibilidades interpretativas ao público.
Isso não quer dizer que o disco seja repleto de canções maçantes, tipo bate-estaca. Zémaria é eletrônico, mas não é um disco produzido exclusivamente em computador. Tem baixo, guitarra e bateria tocados normalmente. Prova disso é o road-song urbano “Jardim Camburi”, com baixo galopante e nuances de bossa nova, estilo presente também em “Do Limite ao Tempo”. Essa música, inclusive, tem a participação do violonista Nelsinho, do grupo de choro Carne de Gato.
“Mariola”, por causa de sua letra, também tem ares de road-song: “eu fui a Nova Almeida mas não sei voltar de lá, minha casa ficou na lembrança, minha casa é todo lugar”. Diferente de “Jardim Camburi”, “Mariola” é mais selvagem, incorporando batidas tribais e guitarras distorcidas.
A música seguinte, AM, chama a atenção pelo formato pop, enquanto “Tá tudo esquematizado” mistura guitarra surf music, BPMs aceleradas e samples de tambores de congo.
Os momentos mais viajantes ficam por conta de “Vermelha” (essa tem até videoclipe), “Há de estar” e “Um som na sala”, cuja letra cita a proposta do Zémaria: “uma nota, um loop, não é nada demais (…) ouça o sol rachar, quem me dera samplear a cor do som, só um dia”.
O disco atinge o clímax na última faixa, “Prece muda”. Com aproximadamente 10 minutos de duração, começa arrastada e depois ganha fôlego com os samples da bateria da escola de samba Unidos de Jucutuquara.