Salvação lança Os Dias
Uma das bandas mais requisitadas pelo crescente público de reggae no Brasil, posição que alcançou depois de um ano morando em São Paulo, a capixaba Salvação está lançando “Os Dias”, seu segundo trabalho. Em relação ao primeiro CD, “Altas Ondas Astrais” (1999), o novo difere principalmente pela ausência de metais, pelo instrumental mais bem trabalhado e pelas temáticas urbanas/cotidianas, contrastando com a predominância de músicas românticas do disco de estréia. A nítida evolução do Salvação, devida principalmente à troca de alguns músicos, foi conduzida pelo produtor Thomas Gruetzmacher, que trabalha muito com a Tribo de Jah, a mais conhecida das bandas de reggae brasileiras.
Mantendo a base roots reggae (“reggae de raiz”) do primeiro disco, “Os Dias” traz um Salvação que capricha mais nas incursões pelo rock e apresenta alguns traços de regionalismo. O disco é aberto pela ótima “Violência sem sentido”, que aborda uma temática onipresente em discos do gênero. A composição, do guitarrista Paulão, é curta, porém expressiva: “Não consigo mais sorrir / Não consigo mais te ver / Violência sem sentido / Crianças a morrer / Nem polícia nem bandido, se importam com você”, diz.
As faixas seguintes, “Como vai você” e “Te encontrar”, falam de amor e tem aquela levada preguiçosa característica do reggae. Ideais prás rádios, junto com “Awaüinê”, a música de trabalho. Essa palavra (lê-se “avaineá”), inclusive, é invenção do vocalista Rodrigo CX, que a criou para expressar “vibrações positivas”. Depois, na faixa cinco, vem “População”, que começa em ritmo de congo, tipo de música folclórica muito difundida no Espírito Santo. A canção seguinte, “O Mar”, diz: “O Mar / Coisa mais linda que Deus criou / Tirando a mulher, a paz e o amor”. Verdadeira, mas anti-poética. No final, a parte instrumental compensa o deslize dos versos.
Da sétima à décima música, respectivamente “Realidade Urbana” (soa como aula de Geografia), “Os Dias”, “Tudo Igual” e “Ciclo Vital” o CD não fede nem cheira. Canções regulares apenas. “Tentar Entender”, que começa com violões acústicos, tem temática existencial e “Vila Velha” é sobre a cidade onde moram os integrantes da banda. “The Feelings”, a décima-terceira, é a única composição em inglês já lançada pela banda. E prá fechar o disco, em clima de alto astral, o ska “Se solta aê”, cuja composição tem versos que não devem agradar muito às meninas com tendência a queimar sutiãs, dizendo: “Se solta aê / prá ver qual é / Vai ver que é bom / pegar mulher”. Uma música-moleca, pura zoação.