Pai da Criança: Salvação faz Milagre
Atrasado de novo, cá estou eu para escrever mais umas linhas que, creio, ninguém leva muito a sério (faz bem!). A culpa, novamente, é do vestibular, que prestei nessa semana que passou. Como você não tem nenhuma culpa nesse cartório, vamos logo ao assunto da coluna de hoje: reggae. Sim, é aquele ritmo cheio de malemolência que arrasta multidões às festas da Grande Vitória e à Barraca do JB, onde rola a santa (prá quem gosta, claro) “Terça Reggae”.
Começo por onde Brás Cubas terminou, porém com apenas uma negativa: não gosto do reggae puro e simples. Acho que o ritmo jamaicano, quando misturado com o pop, ou o rock, ou o samba, ou qualquer outra coisa, cai bem nas músicas. Mas essa coisa repetitiva que boa parte dos habitantes jovens da Grande Vitória não se cansam de ouvir não faz minha cabeça. A irritante repetitividade pode ser resumida no som que sempre sai pelas mãos do guitarrista de reggae, que como bem definiu um ex-colunista do Central da Música, “adora aqueles dois acordes, tocando-os com a força de quem viveu seus dias mais felizes na Somália (com todo respeito aos habitantes deste país em dificuldades). Passando a palheta nas cordas como quem dá os últimos retoques na obra de arte. E não pense que isto se faz numa vez ou outra, é toda santa música, todo santo acorde, em todo santo álbum. Faltou vitamina”.
E por favor, não me venham os regueiros com aquele papo clichê de que “reggae é a música da paz, que transmite energias positivas, blá, blá”, essas coisas que sempre escrevem quando alguém critica o gênero. Combinado? Mas bem, já estou quase na metade do texto e ainda não disse aonde quero chegar. Não estou aqui para falar do reggae propriamente dito, mas de um CD de reggae. Sim, “Os Dias”, o novo do Salvação, que você já sabe, está nas lojas desde o final de janeiro. Vai soar contradição a tudo que escrevi até aqui, mas o fato é que gostei do disco. Muito. E não é porque o brother gente fina Léo Grijó, baixista da banda, me deu o CD de presente ou porque o Central da Música Capixaba está fazendo um acordo mútuo de divulgação com o Salvação. Gostei porque o CD, de reggae, repito, é bom!
Isso vai servir como argumento para quem quiser pegar no meu pé, mas o fato é que confesso que pouco ouço o que é produzido em termos de reggae no Brasil e no mundo. Eu até tento, mas geralmente paro na primeira música do CD. É tudo muito chato. Tampouco conheço o primeiro disco do Salvação, que tem aquela música que acho extremamente bobinha, mas que virou hino do reggae capixaba. Assim, não dá prá traçar um paralelo entre o primeiro e o segundo disco, muito menos compará-lo com os CDs de outras bandas de reggae. Desse modo, cito depoimentos de quem acompanha a banda há mais tempo: eles garantem que a banda evoluiu pacas de uns tempos prá cá, graças às trocas de formação. Dizem que o baterista, por exemplo, era horrível.
Mas o que você quer mesmo é saber como é o CD que o-cara-que-não-gosta-de-reggae-gostou, certo? Vai comprar. Hehehe, brincadeirinha. Bem, o que mais me agradou em “Os Dias” foi o instrumental bem trabalhado, com destaque para o baixo do nosso amigo, o Léo Grijó. Da guitarra, em algumas músicas, ainda saem aqueles dois acordes característicos, mas não fica só nisso. A melhor música, prá mim, é “Violência sem sentido”. Perfeita para iniciar shows (e o CD, como de fato acontece). A letra dela, apesar de curta, é uma das melhores que já vi, sobre a tão cantada violência. Depois tem “Como Vai Você” e “Te Encontrar”, muito parecidas por sinal, seguidas por “Awaüinê”. Essas três formam a tríade de músicas que serão trabalhadas nas rádios. Com razão, tem bom apelo pop. “Awaüinê” já está rolando há um tempão, aliás. E você já deve até saber que essa palavra é invenção de Rodrigo CX, que a criou prá expressar “vibrações positivas”. “População” começa em ritmo de congada, mas só começa. Depois vira reggae, bacana até. “O Mar” diz “O Mar / Coisa mais linda que Deus criou / Tirando a mulher, a paz e o amor”. Verdadeira, mas anti-poética. No final, essa música tem uma parte instrumental cool, dá prá viajar legal.
Da sétima à décima música, respectivamente “Realidade Urbana” (soa como aula de Geografia), “Os Dias”, “Tudo Igual” e “Ciclo Vital” o CD não fede nem cheira. Canções regulares apenas. Depois temos “Tentar Entender”, boa, e “Vila Velha”, chata. A música, não a cidade. “The Feelings” é a única composição em inglês já lançada pela banda. E prá fechar, em clima de alto astral, nada melhor que um ska, essa sim uma variação do reggae que eu curto. A música chama-se “Se solta aê” e tem letra voltada para algum cueca. Fala mais ou menos assim: “Se solta aê / prá ver qual é / Vai ver que é bom pegar mulher”. Essas duas últimas palavras não agradaram muito às meninas, ao menos à minha irmã. Muito “escroto”, segundo ela.
Depois de eu gastar tantas linhas prá falar bem do Salvação, espero que você, que eu sei que é regueiro, vá logo comprar a bolacha prateada. É tudo 12,90 réal, parodiando o Pedro Luís, aquele que toca com a Parede. All right?
Drops
+ Dead Fish é o melhor do Brasil: na primeira edição desta coluna, o Pai da Criança aqui escreveu que “Afasia”, do Dead Fish, foi o melhor disco lançado em terras capixabas em 2001. Fui mais longe, afirmando que a banda é a melhor do hardcore nacional. Pois é, se alguém achou que era bairrismo ou qualquer outra coisa, uma sugestão: dê uma olhada no resultado do PUNKnet Award 01, em www.punknet.com.br. Trata-se de uma votação realizada pelo site PunkNET, o melhor sobre punk e hardcore da internet brasileira, para eleger as melhores bandas dessas cenas em 2001. O resultado, divulgado no início de fevereiro, trouxe os capixabas como destaque absoluto. Rodrigo Lima e seus comparsas venceram, de chinelada, nas categorias “Melhor Banda Nacional”, “Melhor disco Nacional” (Por “Afasia”), “Melhor Show Nacional” e “Melhor Website”.
+ Por falar neles: já saiu, pela Terceiro Mundo Produções Fonográficas, o CD “Metrofire”, do Projeto Peixe Morto. No site e no release do projeto, rola uma papo bobo de que o selo recebeu o CD direto do Oriente Médio com as músicas do Projeto Peixe Morto, mas quem ouvir não vai ter dúvidas de que é Dead Fish mesmo, com uma outra roupagem. Conforme definição do site, as músicas de “Metrofire” “são rápidas e imaturas, num estilo hardcore old school, pra pit-boy que gosta de ir em show pra dar porrada”. Eu só ouvi uma música, e gostei. Se você quiser ouvir três, vá ao www.terceiromundo.com.br/bandas/ppm.html. Nesse endereço estão disponíveis os MP3s de três músicas do projeto: “Tim Maia”, “O soco racional” e “40 minutos na ilha”.
+ A volta dos Mortos Vivos: quando era criança, tinha medo de assombração. Mas agora já estou bem crescidinho prá temer essas coisas, principalmente as que tocam rock n roll. Por isso mesmo é que não perco de jeito nenhum a “Volta dos Mortos Vivos”, que o incansável Serjão Nascimento promove no próximo sábado (09/03), no Camburi Clube. Quem quiser saber mais, sugiro uma leitura na matéria de capa desta semana do Central da Música Capixaba. Ingressos a apenas R$ 6,00, não há desculpas prá você não ir! A gente se esbarra por lá, balançando a cabeça!
+ Bandas capixabas nos quadrinhos: essa, pelo visto, é a coluna do “um assunto puxa o outro”. Já que falamos em Serjão Nascimento, vou contar sobre um dos próximos projetos do cara que comanda o Rock por Essas Bandas há oito anos. Pai do Festival RPEB e da “Volta dos Mortos Vivos”, Serjão tem em mente um projeto envolvendo música capixaba e quadrinhos. Ele se uniu ao cabra que criou o personagem “Tristão” e pretende lançar, a cada mês, uma revista sobre alguma banda capixaba. O lançamento das revistas seria acompanhado de um show da banda caricaturizada (essa palavra existe?). Vi a caricatura que foi feita do Lordose, a primeira banda que deve sair em quadrinhos, e pude constatar a qualidade da parada. Tomara que emplaque.
+ Alexandre Lima cria selo: estive neste sábado (02/03) participando do Brasil.com, programa apresentado por Alexandre Lima e Mônica Camilo. Entre uma sequência musical e outra, Alexandre comentou comigo que estará criando um selo neste ano, o Ilha. Ele, que já produziu três discos (“Ilha em Movimento 2001/02″ é o mais recente), disse que está afim de trabalhar com bandas formadas por uma molecada de 16, 17 anos, que possa ter um futuro promissor no mundo do rock n roll. Alexandre se diz disposto a produzir e investir em algum eventual talento que encontrar.
Eerrrrgue o braço!
O juiz acaba de apontar o braço para o meio de campo, o que significa que mais essa edição da coluna chegou ao fim. Vou correndo tomar a minha ducha. Até a próxima!