Os sons do nosso verão
Sete de março de dois mil e três. O início do mês marca um período considerado meio morno para a maioria das pessoas. É momento de fim de férias escolares e profissionais, hora de voltar à “vida real” e, segundo a edição deste mês da revista Você S.A , pode trazer até depressão “pós-férias”. No que diz respeito à cultura, também há um desaquecimento, já que as bandas, grupos de artistas e dançarinos em geral costumam trabalhar bastante na época. À exceção das artes literárias e plásticas e da M.P.B, a música costuma ter seu grande momento na estação das férias. Mas… como “tudo o que é bom dura pouco”, estão aí as águas de março, e como diria Jobim, fechando o verão.
A música capixaba viveu um momento atípico. Após a “overdose” da temporada passada, foi momento de consolidação. O público já não passa por aquele penoso problema de querer uma música ao vivo e não encontrar ou encontrar valores impagáveis. Também não houve aquela velha situação de só serem encontrados artistas nacionais em shows abertos para adolescentes e afins. Quem quis pôde escutar bons artistas nacionais em restaurante italiano ou sentado de frente para o mar.
O Multiplace Mais, em Guarapari, “mandou bem” com o projeto Mais In Concert, que trouxe Wilson Simoninha, Max de Castro, Jorge Vercillo e Luciana Mello. Apesar do amadorismo com que a casa tratou a imprensa, os shows valeram a pena. Quatro apresentações boas, lotadas e caras, afinal levando-se em conta que o atual salário mínimo gira em torno dos duzentos reais, um ingresso ao custo de 15, além de consumação obrigatória, proibida por lei por sinal, de dez reais, é abusivo. No que diz respeito a qualidade não houve nenhum percalço. A iluminação estava excelente, a equipe de som era de primeira e a atendimento também não deixou a desejar. Além disso os shows abordaram estilos musicais diferentes e trouxe caras novas para o cenário capixaba. Enquanto Simoninha priorizou o samba soul, Max priorizou o mix de M.P.B e eletrônica e Luciana por sua vez enfatizou o pop. Cada qual a sua maneira, deram certo.
Há cerca de 20 minutos da Mais, uma nova e inovadora casa foi inaugurada no verão 2003. O Barracústico, inaugurado no fim de dezembro, tem dado oportunidade a artistas locais. Por ali passaram Daniela Moraes e banda, Manimal mais de uma vez, Tamy e DJ Tourco, Denise Pontes, Marcela Lobo, A Garota e os Caras, entre artistas nacionais como Emmerson Nogueira e Zé Geraldo. Dos muitos shows que o Musicacapixaba.com cobriu no Barracústico, são memoráveis o lançamento do DVD do Big Beatles, no qual pode-se conferir o enorme entusiasmo do público em relação à banda, e a última apresentação de Emmerson Nogueira, que apesar de pecar pela qualidade do serviço e som acabou por ser extremamente interativo e diferente da tradicional concepção de espetáculo trabalhada pelo cantor.
Ainda na Barra, o Barroco preza por um público específico e por atende-lo bem. O administrador da casa, Sr.Paulo Andrade, ressalta que sua casa é uma “casa de inverno”, “para um público selecionado, que sabe aliar qualidade ao bucolismo da Barra”. Lamenta porém que a praia esteja tão mal cuidada e acredita que a prefeitura deveria investir mais devido ao potencial turístico do local. Sempre lotada a casa enfatiza a M.P.B, e por lá passam conjuntos como o Quarto Crescente, formado por integrantes do Moxuara e pela já mencionada Daniela Moraes.
Os tradicionais bares da Praia do Canto tem um estilo um pouco mais sofisticado e também já cederam à música local. O Café 33 recebeu em ambiente menos casual e agradável, as mesmas “figuras conhecidas” que passaram pelos outros bares e deu oportunidade para lançamentos como o da banda Carpe Diem. Casa lotada e aceitação do público amante do rock. Além deles o Trio Simonassi andou (e continua) marcando presença. Músicos e amantes de boas execuções instrumentais tem elogiado as bandas que passam pela casa.
Em linha gerais os sons do verão capixabas progridem “até para os ouvidos mais leigos”. O verão foi uma boa oportunidade para quem pôde conferir isso. Falta, agora, oportunidade real para novos talentos, que possam ir além dos tradicionais concursos nos quais são colocados para tocar “sob o sol” e muito antes do público chegar.
A atual música produzida aqui vale a pena, porém o capixaba não precisa ficar confinado a ouvir, antes, durantes e depois do verão, os mesmos intérpretes, por melhores que sejam.