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Macucos: a bola da vez

Já está à venda o primeiro rebento de peso da cena musical capixaba neste ano de 2002. É o CD de estréia da banda de roots reggae Macucos, que junto com o Casaca, foi a maior revelação da nossa cena em 2001, em termos de público. O disco foi apresentando à imprensa na última quarta-feira, numa coletiva no Cerimonial Atrium, em Vila Velha.

Conforme o Central da Música Capixaba já havia adiantado em dezembro, o disco, que leva o nome da banda, traz doze faixas, algumas nunca apresentadas em shows. Mas também estão nele músicas do Macucos que tocaram bastante nas rádios em 2001, como “Haverá”, “Não quero mais” e “Além do Mar”, essa última incluída recentemente no CD “Dia D Ao Vivo 2001″. Produzido pelos próprios integrantes do Macucos, com uma força de Anderson Xuxinha (batera do Java Roots), o disco foi mixado e masterizado por Val Martins, dono do estúdio S2, onde foi gravado o disco.

Um dos grandes destaques do disco são as participações especiais. Dentre os músicos convidados estão Junior Boca (baixista do Java Roots, tocou nas faixas “Meu mar” e “Fio de navalha”), Xuxinha (percussão em todas as faixas) e Alex Kassani (guitarrista do Salvação, gravou um solo na faixa “Mãe natureza”). Já dentre os que participaram nos vocais, dois nomes de peso: o “embaixador” do reggae brasileiro, Fauzi Beyduon (Tribo de Jah), dividiu os vocais de “Stop” com Fred, mesma função desempenhada por Charlim (Rasta Joint) na faixa “Os meninos do Brasil”.

O CD será lançado no próximo dia 17 (quinta-feira), em show no estacionamento do colégio Marista, que fica no Centro de Vila Velha. A festa está marcada para começar às 19 horas e terá direito a shows das bandas Casaca, Java Roots e Nengo Vieira, além do Macucos, é claro. Os ingressos estão sendo vendidos a R$ 12,00 nas lojas Bahamas, Rapid Color, e Lanchonete Lula e Fábio. Quem comprar um ingresso, ganha o CD. Que mamata, hein? Mas se você quer o seu, compre logo, pois pode ficar sem: em apenas três dias, antes da divulgação maciça na imprensa, foram vendidos 600 ingressos. A banda espera pelo menos 5 mil pessoas no show.

Crítica
Um ótimo vocalista e ótimas letras. São os diferenciais que podem explicar o rápido sucesso do Macucos no ES, onde, com seu roots reggae competente, a banda caiu nas graças dos milhares de regueiros existentes no estado. “Macucos”, o disco de estréia, é a esperada transposição para as “bolachas prateadas” desta química.

É o Macucos uma das promessas do reggae nacional? A julgar pelo público que conquistaram na Grande Vitória (“a terceira capital nacional do reggae”) e pela atenção que despertaram em gente que entende do ritmo jamaicano, não dá prá negar que sim. E para o cenário pop? Aí o buraco é mais embaixo: ouvindo o disco, o que percebe-se é que o lance da banda é tocar para os regueiros. Há apenas três ou quatro músicas em que a malemolência característica (e extremamente repetitiva!) do roots reggae é deixada um pouco de lado. Isso é bom e ruim. Bom pela ótica de que a banda é sincera no que faz, e ruim porque justamente isso limita o público que o grupo pode conquistar. Aspecto positivo por negativo, fico com o primeiro: Fred e seus companheiros tem mais é que se manter nessa linha, onde já provaram que podem voar tão alto quando o pássaro que dá nome à banda.

Deixando essa ladainha mercadológica de lado, vamos ao disco, de fato. O álbum começa com “Mãe Natureza”, ao mesmo tempo uma ode à natureza e um lamento a respeito de sua destruição. A temática, diga-se de passagem, é apropriada, já que “Macuco”, convém lembrar, é o nome de uma ave em extinção. Em seguida, na faixa dois, “Aço e concreto”, com uma temática árcade: a banda canta a fuga da cidade. A terceira faixa é a romântica “Haverá”, muito executada nas rádios capixabas, e por isso mesmo um dos destaques do disco. O amor é abordado também em “Não quero mais”, outro destaque do álbum. Essas duas músicas são as mais propícias para agradar ao grande público, talvez por tratarem de um tema universal, que faz sucesso em músicas de qualquer estilo.

As temáticas sociais também estão presentes: “Os meninos do Brasil” pode ser classificada como a versão realista de “Garotas do Brasil”, música do Papas da Língua que já serviu de trilha sonora para comercial de sandálias: “Moram nos guetos, nas ruas / Não sabem quem são seus pais / Fumam, cheiram, coca, crack”, diz a letra do Macucos. Há ainda “Stop”, uma canção de protesto contra os “Senhores do Poder”, com uma participação muito legal de Fauzi Beyduon; e “Fio da navalha”, sobre a violência. Completam o disco músicas em que misturam-se, basicamente, cantos à natureza, ao rastafarismo (“Jah” é figurinha fácil nas composições) e ao reggae, “o som que encanta”. O destaque é “Além do Mar”, que conforme os adeptos do reggae bem gostam de dizer, emana vibrações positivas e muita tranquilidade.

Ao final da audição, dá prá resumir o disco traz, com bastante propriedade, o que se pode esperar de uma banda de roots reggae. E nada mais: quem é regueiro ou não acha o ritmo repetitivo, pode comprar o álbum de olhos fechados.

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