Festival Dia D 2001: saiba o que rolou e quem se destacou
Cabelos espetados ou pintados, roupas pretas, jeans rasgados. Esse era o figurino predominante entre as 18 mil pessoas (dados da organização) que compareceram no último sábado à 3ª edição do Festival Dia D, que se consolidou como a data mais esperada da cena musical do Espírito Santo. A festa foi pacífica, tendo como destaque o ecletismo das atrações musicais e o respeito entre as diversas tribos.
Os portões foram abertos às 15h, quando começou a entrar a galera mais “dark”, mas a Praça do Papa, onde foi realizado o evento, só começou a encher mesmo após as 20h. Por isso, poucas pessoas presenciaram um dos melhores shows do festival, promovido pela banda Última Coisa no palco das artes. Com uma música que mistura ritmos regionais, rock e uma certa dose de nonsense, o Última Coisa, cujos membros militam nas Artes Plásticas, impressionou o pequeno público presente até então com o uso de instrumentos inusitados, como o berimbau eletrificado. No fim do show houve a participação especial da Banda de Congo Mestre Alcides. Esta banda, aliás, protagonizou um encontro de gerações, ao fazer uma roda de congo com a Banda de Congo Mirim da Ilha, fora dos palcos. O encontro aconteceu na base do improviso, unindo em uma única massa sonora a batida dos veteranos e dos pequeninos do congo, que tinham acabado de tocar no Palco Capixaba.
Foi no mesmo palco das artes, inclusive, que rolaram os melhores shows do festival. As bandas Lucy e Crivo, ambas comandadas por mulheres, empolgaram com seu pop/rock. A vocalista Manuela Bergamin, da Lucy, vestida com uma roupa feita de bexigas de borracha (daquelas usadas em festas de aniversário), cantou e encantou com belas canções como “Mais Feliz” e “Viagem Cósmica”. Já o Crivo, que contou com a participação de dois integrantes do Manimal, mandou um rock ora elétrico, ora delicado.
Pouco depois, ainda no palco das artes, os punks do Mukeka di Rato apresentaram ao grande público seu novo vocalista. O show foi mais “comportado” em relação ao do ano passado, quando o então vocalista Sandro se apresentou nu. Seguiram-se no P.A. os show do Pé do Lixo e Manimal, não por acaso os mais concorridos do festival. O Pé do Lixo, que também está de vocalista novo, fez um show marcado pela forte pegada percurssiva e pela participação da platéia, que cantava os hits do grupo, como “Virado desde ontem”, “Zingane”, e “Terra prometida”. Durante a execução da música “100% Reciclado houve uma surpresa”. Um grupo de modelos desfilou enquanto a banda tocava, vestindo modelitos feitos com material reciclado. A performance fazia referência à principal característica do Pé do Lixo, que consiste na utilização de tambores feitos de sucata.
Já no Palco Vitória, o principal, os melhores momentos ficaram por conta das bandas Siecrist, Raolino Pé di Rodo, Thor e Casaca. O Siecrist foi a terceira banda a se apresentar no palco. Comandado por Adriano Scaramussa, e com direito a participação especial de um guitarrista gringo, o grupo fez a galera “pogar” ao som de seu furioso trash metal. Em seguida, o Raolino Pé di Rodo subiu ao palco para fazer um show mais politizado. Tocando para um público menor que o do Siecrist, a banda cachoeirense mandou ver na sua mistura de hip-hop e hardcore, com direito a uma balada reggae e roda de capoeira no final do show.
Logo depois do Raolino a temperatura voltou a subir, com o show de heavy metal da Thor, que se reuniu especialmente para o Dia D, e com a apresentação da banda Casaca, que funde pop/rock com reggae e congo. O show da banda, em ascenção no cenário capixaba, foi provavelmente o que reuniu o maior público em frente ao Palco Vitória.
Num festival cujas atrações eram basicamente bandas de rock, vale destacar ainda a participação dos grupos de reggae. O estilo vem crescendo no ES, e aproximadamente 1/3 das bandas do gênero existentes no estado se apresentaram no Dia D. Destas, os grandes destaques foram Rastaclone (que tem uma pegada mais roqueira) e Salvação, ambas no Palco Moqueca, e Java Roots, no Palco das Artes. As duas últimas bandas citadas fazem aquele reggae mais calminho, de raiz.
Mas o Dia D não deu espaço apenas à música. Havia exposições de artistas plásticos, fotografias, mostra de fanzines e venda de artesanato. A iniciativa foi aprovada pelo público: “É muito bom que num evento como esse haja espaço para a artes plásticas, pois assim o artista pode mostrar o seu trabalho para um número maior de pessoas”, afirmou a estudante Aline Montesqui. Havia, também, pista para a prática do skate e paredão de escalada, que estiveram bastante movimentados durante o festival.
Tudo isso aconteceu dentro da mais completa paz, visto que nenhuma briga foi registrada. O estudante de administração Rafael Costa Valle, quando perguntado qual a melhor atração do Dia D, dá um depoimento que resume como foi o festival: “Eu não consigo definir qual o foi melhor show, tem muita banda boa para escolher só uma. Valeu a iniciativa da organização em colocar tudo isso em um só local”.