Estréia do Casaca: Poderia ter sido 10, mas foi azul
Os capixabas presentes na boite Meli Melô, Teatro da Lagoa, no último dia 28, sentiram seu coração bater mais forte. O motivo foi ver sua bandeira, a bela bandeira azul, branca e rosa do estado do Espírito Santo hasteada lá, no reduto dos mais importantes estilos musicais do país, na vitrine de tudo o que é muito bom e muito ruim, no bom e velho Rio de Janeiro. Apesar de idolatrados em seu estado de origem e com apresentações vitoriosas em diversas cidades do Sudeste do país, tocar no Rio ainda é um momento único na carreira de qualquer artista que intencione galgar os concorridos degraus da fama e solidez artística e, graças ao contrato com a multinacional Sony Music, uma banda de apenas 3 anos de existência teve essa oportunidade.
O lançamento nacional do CD da novidade Vila Velhense Casaca foi marcado por uma atitude que encheu os conterrâneos de um orgulho único, uma vez que os artistas espírito santenses já consagrados (como Roberto Carlos), não costumam fazer parecido. Apesar desse contagiante gesto, uma série de “pequenas falhas totalmente evitáveis” fizeram com que o apresentação passasse longe das melhores da banda.
A primeira dessas falhas foi um atraso de mais de uma hora no ínicio da mesma. Marcado para as 22:30, o show só teve início após as 00:00, o que pareceu estranho principalmente ao grupo de estrangeiros que se encontrava na casa. Após a longa espera, deu-se o início, com a banda tocando “Leva um Picolé”, na qual a mesma apresentou uma perfomance considerável. A seguir conferiram-se “clássicas” do CD independente (o álbum No Tambor, Na Casaca, Na Guitrarra, que vendeu mais de 50.000 cópias só no Espírito Santo), como Da Da Da, Sereia e Ondas Do Barrão, as quais receberam um arranjo mais pop.
Então, ouviram-se a regravação de “Alagados” dos Paralamas do Sucesso (cujo arranjo de congo lhe caiu muito bem) e novos sucessos como “Vida de Salário”, e “Marina” (hit causador de polêmica, composto juntamente com o vocalista de outra banda capixaba, chamada Manimal). O show contou ainda com a apresentação da música de trabalho “Anjo Samile”, da qual o clipe fez uma falta irreparável, embora o vocalista Renato tenha tentado justificá-la ao público presente. Um acontecimento contestável teria sido o fato de que as apresentação da manifestação cultural capixaba conhecida como congo ter sido extremamente superficial tanto no decorrer do show, quanto nos jornais que divulgavam a banda na segunda-feira anterior ao evento. Além disso, na própria página da Sony Music, o link da banda apresenta a Casaca como um novo grupo de Pop Nacional, dando ao Congo um enfoque bem inferior ao merecido.
Na performance da Meli Melo, foi muito positiva a presença do dançarino Nanado, oriundo do balneário da Barra do Jucu, “pátria” de uma das principais bandas de congo do estado. Para a introdução, o clipe “Anjo Samile” poderia ter evitado uma situação comum na hora do concerto: as pessoas expressando o fato de não entenderem bem o que estava sendo apresentado. Não se sabe se ao fim do show a dúvida havia passado. Talvez tenha faltado uma exploração um pouco maior, por parte da mídia, da riqueza do que a Casaca traz, ou seja, do congo, até como uma certa satisfação ao público que chegou a confundir o que estava sendo apresentado com uma nova banda de pagode ou até axé.
“Fiquei sabendo que o que se dará aqui hoje é o lançamento de uma nova banda de forró”, disse o estudante de história Norte Americano John Smith. A canção “Barra” também fez falta. Embora “bem ufanista”, a mesma possui uma cadência bem diferente do que o grupo costuma apresentar, principalmente no que diz respeito à percussão. Os capixabas confirmam que ouvir Casaca sem “Barra” é assistir a uma exposição de Da Vinci sem “A Monalisa”.
“Eles são bons demais, mas senti falta de “como é bom te ver, quero te levar…”, afirmou uma universitária capixaba residente em Juiz de Fora que se dirigiu ao Rio unicamente para ver Casaca. Houveram ainda as manifestações de saudosismos: “O melhor show da Casaca foi o primeiro que eles fizeram, na Barra do Jucu, há cerca de dois anos”, declarou a estudante universitária paulista Camila Campos, que na época se encontrava no balneário. Camila estava descontente com o fato de ter-se dirigido à Meli Melô para assistir a um show de apenas 50 minutos.
No quesito imagem destacaram-se o tecladista Augusto e o percussionista Grillo: ambos sorriam todo o tempo e transmitiam segurança, contrastando com o “ar de preocupação” que os demais integrantes passaram em alguns instantes, talvez por disporem de um tempo muito curto para “mostrarem a que vieram”. Mesmo assim houve quem aprovasse em cem por cento: “Achei a apresentação perfeita e comprarei o novo CD o mais rápido possível”, declarou a estudante carioca Raquel Prado.
A aprovação do público ao som foi incontestável, embora em se tratando do centro artístico em questão, pudesse ter sido feita em outras bases (até para que as pessoas já “entrassem no clima”). O que se verificou foi uma sucessão de detalhes que acabaram dando margem à confusões feitas por um público que mal acabou de conhecer a banda e que esteve no local apenas para prestigiá-la. Na prova do lançamento nacional, na cidade maravilha de beleza e de caos”, a banda passou, com nota azul, embora, (se não fossem meia dúzia de “vírgulas”), pudesse ter conseguido um 10.