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Entrevista: Serjão Nascimento, do Rock por Essas Banda

A música capixaba deve muito a esse camarada ao lado. É Serjão Nascimento Jr, um dos vocalistas do Lordose e pai do programa de rádio Rock por Essas Bandas. Há oito anos no ar, o “RPEB” foi pioneiro da atual onda de valorização das bandas locais, surgindo numa época em que mal havia material para tocar num programa semanal de uma hora. Melhor do que nunca, Serjão anda cheio de projetos para o programa, e por tabela, para a música capixaba. Nesta entrevista, nós do melhor site de música capixaba do mundo fomos conferir para você a história do melhor programa de rock capixaba do mundo. Nela, Serjão fala sobre os primórdios, as rádios por que passou, o CD-tributo a Sérgio Sampaio e muito mais. Confira!

Central da Música Capixaba: como surgiu a idéia de criar um programa só de música capixaba? Fale sobre os primórdios…
Serjão: Antes de morar no ES, morei em Brasília nos anos 80 e vi o que aconteceu com as bandas de lá. Acompanhei o surgimento do Legião Urbana, Plebe Rude, do Capital, cheguei a assistir a shows do Aborto Elétrico. Ia a shows, comprava as demos, os LPs, as camisas, colecionava as palhetas do guitarristas, era um aficcionado pela cena. Havia na época um programa de rádio totalmente dedicado à música candanga, eu era um ouvinte inveterado. O que eu fiz foi adaptar a idéia ao ES, sabia que podia acontecer o que aconteceu por lá, mas sinceramente não achei que fosse demorar mais de cinco anos prá cena se firmar. De qualquer forma, esta demora deu mais consistência ao programa rock por essas bandas, tenho muito orgulho de ter sido pioneiro neste segmento, são oito anos de dedicação a música capixaba.

Você passou a década de 80 em Brasília, onde havia uma forte cena rock, que você disse valorizar muito. Quando veio para o ES? E o que é que te despertou essa paixão pela música capixaba, a ponto de lançar um programa de rádio dedicado somente a este tipo de música, numa época em que pouco se falava de música capixaba?
Cheguei ao ES no dia 28 de dezembro de 1988, e conforme respondi acima, trouxe de Brasília esta vontade de valorizar quem estava próximo de mim. Gosto de acompanhar os acontecimentos de perto, gosto de ter acesso aos músicas, às pessoas que admiro o trabalho e, principalmente, sabia que se a música capixaba conquistasse o seu lugar, um programa nestes moldes iria a reboque, foi um investimento! E hoje, acho que gozo de razoável credibilidade no mercado, tem muita gente que se identifica com a marca Rock por essas Bandas.

E quais foram as dificuldades iniciais? Quais delas perduram até hoje?
No início o que pegava era a falta de material, e hoje é o excesso. No começo, não havia música para tocar em um programa semanal de 1 hora de duração, além da qualidade das gravações serem precárias, era a época dos K7s. Hoje tenho material suficiente para fazer uma rádio que toca 24 horas de música local, o díficil é se fazer uma programação para duas horas por semana, é muita coisa boa que fica de fora.

Esse slogan (“melhor programa de rock capixaba do mundo”), no início, era meio que um escracho, certo? Hoje você profere ele com um tom de bastante orgulho. Mesmo que não fosse mais (o melhor programa), é um título a que o programa tem direito, pelo pioneirismo…
Era o único programa dedicado exclusivamente a música local, por ser o único era o melhor, e também o pior! Obviamente, em se tratando de slogan, achei mais interessante optar pela palavra “melhor”. Mas não vou mudar meu slogan só por parecer pretenção… o rock por essas bandas não é oportunista, se consolidou junto com a cena. E de mais a mais, acho que quanto mais experiência se adquire, mais se melhora. Os outros que me desculpem, mas com oito anos de estrada, é o mais experiente, é o melhor realmente. Mas é importante que se diga que acho muito válido que outras rádios tenham programas específicos com bandas locais, tenho uma vinheta no RPEB que fala assim: “Aceite imitações, a música capixaba agradece”. É irônico, mas honesto!

O RPEB já esteve em três rádios. Em qual recebeu um melhor tratamento para o programa?
São momentos diferentes, na realidade pode-se dizer que o programa passou por seis rádios. Eu explico: é que cada rádio adquire uma política diferente de acordo com a direção vigente. Só na Universitária foram três diretorias. Logo que eu entrei no rádio, quem me apresentou ao veículo foi Conceição Soares, então diretora da Universitária. Devo a ela a escolha do meu ofício. Expliquei-lhe então o projeto de uma programa exclusivamente dedicado a cultura local, e ela, de pronto, gostou da idéia e comecei com o Rock por Essas Bandas. A partir daí virei “Bicho de rádio”. Acabei sendo contratado pela 104.7 como programador e fazendo da rádio, com o aval da diretora, um enorme Rock por essas Bandas. A música capixaba tocava em todos os horários da emissora e essa atitude foi conquistando a simpatia do público e dos músicos da terra. Em um segundo momento, com a saída da Conceição, trabalhei sobre os “Auspícios” de Dilson Ruas, gente boa, capixabíssimo, gostava de tudo que era do ES, e por conta disso o programa começou a ter maior importância na grade da Universitária. Foi durante a gestão do Dilson que aconteceu o 1º Festival Rock por Essas Bandas, tendo o Sala 11 como parceiro. Ele colocou a rádio a disposição do festival. Ainda na Universitária, acontece mais uma mudança de diretoria, essa totalmente desastrosa! Devido a acordos políticos dentro da UFES, a rádio passou a ser usada como moeda de barganha. Entrou na 104.7 um grupo despreparado, ganancioso e acima de tudo burro! Mudaram toda a rádio pra pior! Um dos infames do grupo, Carlos Rabello, teve a pachorra de me dar um ultimado: “Mukeka di Rato e Dead Fish são muito pesados para a nossa programação, se você tacá-los de novo, seu programa sairá do ar!”. Não esperei que o imbecil tirasse o programa do ar, eu mesmo dei linha! Foi uma época braba. E Júlio Raposo, o outro conivente com a falcatrua, continua lá, afundando ainda mais a Universitária… é uma pena!

Neste momento acontecece a mudança do programa para a Cidade FM, todo aquele público que a Universitária conquistara em anos de trabalho sério, que fora desprezad pela diretoria estúpida, acabou migrando para a rádio da UVV. A Cidade recebeu de bandeja uma rapaziada ávida por música capixaba. Acabei pegando o bonde dessa galera, eu só não: Brasil-Jamaica, Surf Trip e On The Road também foram em busca da “Rádio Prometida”. Foi um bom momento para o Rock por Essas Bandas, o programa se consolidou em uma rádio comercial, ficou em segundo lugar na preferência do ouvinte, segundo pesquisa realizada na internet, e se deu bem em um horário considerado desacreditado pela emissora: segunda, de 10 à meia noite. Acontece que, de uma hora para outra houve uma mudança no tratamento dos programas terceirizados, a rádio começou a fechar o cerco e a dificultar a permanência dos independentes na emissora, foi a hora de mais uma “Diáspora”. Todos aqueles programas que haviam sido desprezados pela Universitária agora eram postos de lado pela Cidade. Foi aí que surgiu a Vila FM, que catou todo mundo, menos eu, que já havia apresentado meu projeto à Transamérica e este havia sido aprovado.

Começa então mais uma história. O diretor comercial da Transamérica era o José Sanches, mas quem lutou para minha vinda para a 101.1 foi Francina Flores. Com o andamento do trabalho comecei a conquistar a empatia de Sanches, que acabou concordando em me ceder mais uma hora no ar. O programa, que havia estreiado na Transamérica em fevereiro de 2001, veio em 1º lugar no ibope de maio do mesmo ano, dentre todas as rádios que trabalham o mesmo perfil. Isso me deu mais credibilidade na emissora, acabei ganhando mais um programa, “Transa Radical”, aos sábados.

Em seguida aconteceu a ida de Sanches para a Gazeta, Francina assume o seu lugar e o programa é tido como um dos pilares da grade da Transamérica. Apresento então à Francina o projeto do 2º Festival, ela põe a rádio toda mobilizada para fazer do evento um sucesso, que realmente foi. O envolvimento de toda equipe da rádio em torno do festival foi algo muito comovente, nunca me senti tão prestigiado em um veículo. A galera se respeita de verdade, trabalhar assim é bem melhor, você percebe onde está pisando. Jamais o programa Rock por Essas Bandas foi tão bem tratado e eu agradeço a todos da rádio por isso, por conta do alicerce que a Transamérica me dá, tudo que tem a marca do programa é sucesso e isso é muito gratificante.

O RPEB surgiu como um programa de rock, mas hoje você toca outros estilos também, como reggae, pop e até MPB. O que mudou, de oito anos para cá, no tipo de música que você toca no programa?
O programa sempre foi essencialmente rock. Mas sendo capixaba, quando me procuravam com material, mesmo sendo outro estilo, eu tocava. O programa também este divulgando todas as manifestações culturais do ES, fui o primeiro a tocar o disco da banda de congo da Barra do Jucú, ainda na Universitária. Também sempre entrevistei a galera da poesia, do cinema, das artes plásticas, do teatro. No programa nunca teve esse lance de: não é rock, não toco. O que acontece é que, pelo nome do programa, sempre chegou mais material de rock and roll. Nas inscrições para o 2º festival Rock por Essas Bandas, das 80 bandas inscritas, 90% eram de rock. Mas isso tá mudando, a moçada tá percebendo que o espaço é democrático.

Tem noção de como foi a evolução da audiência ao longo desses oito anos?
A única coisa que sei é que a audiência vem aumentado com o passar dos anos. A gente percebe isso pelo número de telefonemas que a gente recebe por programa, é o único termômetro que eu acompanho.

Você classifica o RPEB como um programa “empreendedor”. Que eventos já realizou / promoveu nesses oito anos?
Acho que os dois festivais Rock por Essas Bandas foram sacações legais para renovar a cena musical do ES. A mídia entendeu a proposta da mostra competitiva e ajudou a colocar o festival no calendário. Tem o disco tributo a Sérgio Sampaio que também foi uma idéia ousada, estamos concluindo as mixagens, mas esbarramos nos direitos autorais, que encareceram o projeto, mas estamos trabalhando pra que o disco saia ainda no 1º semestre. O programa também promoveu o 4ª Rock pelas bandas da Tribo, que foi muito bem, toda quarta lotando a Tribo de Gaia, em Meaípe. E a próxima empreitada do programa é “A volta dos mortos vivos”, que vai “ressuscitar” bandas que já acabaram para um show histórico. Será no dia 9 de março, no Camburi Clube. Tocam The Rain, Porrada!!!, Illness e Thor, estou muito confiante e animado com mais este projeto.

O principal desses eventos, acredito, é o Festival Rock por Essas Bandas, que em 2001 teve sua 2ª edição, e segundo você, será realizado anualmente. Passados dois meses da realização dessa segunda edição, você já andou tendo idéias para a edição 2002 do festival? O que gostaria de melhorar no festival, em relação à 2ª edição?
A idéia sempre é de melhorar! Evoluir é sempre bom, mas acho que ainda é cedo pra pensar nisso, estou muito envolvido no projeto dos “Mortos Vivos” e no tributo a Sérgio Sampaio. Só posso garantir que vamos melhorar com relação ao 2º, a idéia é solidificar definitivamente o festival no calendário. Fiz até uma brincadeira propositalmente pretensiosa: a nossa maior mostra musical competitiva é o “Festival de Alegre” e nosso maior acontecimento genuinamente capixaba é o “Dia D”. Espero, no futuro, estar usando o seguinte slogan: “Festival Rock por Essas Bandas: um Dia D + Alegre”. É uma brincadeira, lógico, mas ilustra nossas pretensões, aguardem o 3º!

Aliás, dentre os planos, estava o de lançar um CD com as bandas que participaram do festival em 2001. Ainda há a possibilidade desse CD sair ou você desistiu dele?
Não desisto de nada, não gosto de me sentir frustado. Tardo, mas não falho! O CD vai sair, as bandas vencedoras começam a gravar no Dourado Stúdios em fevereiro.

E sobre o CD “Tributo a Sérgio Sampaio”, como anda? As gravações já foram finalizadas, certo? O que é que falta para ele chegar às lojas?
Já falei sobre isso acima, só posso adiantar que será um marco para a cena musical do ES. As bandas se dedicaram com muito carinho e respeito a esse projeto, e o resultado vai ser de arrepiar. Nenhuma coletânea lançada no ES teve o conteúdo e a carga de emoção que gira em torno de um projeto nesse formato.

Por que a escolha do Sérgio Sampaio?
Sérgio Sampaio é genial! É inadmissível que essa galera que hoje consome tanta música capixaba não conheça a obra desse cachoeirense. É como se a juventude de Seattle só conhecesse o Nirvana e não soubesse quem foi Jimmy Hendrix. Não existe história da música capixaba sem Sérgio Sampaio, ele merece ser reverenciado.

Quais são os planos do Rock por Essas Bandas, de hoje em diante?
Não penso no futuro, só gostaria de continuar trabalhando pela música capixaba, um dia após o outro, tipo: “O que você já fez pela música capixaba hoje”? É como eu gosto de trabalho, onde me realizo e me divirto.

Por fim: acha que tem fôlego prá, pelo menos, mais oito anos de programa?
Próximo domingo tem programa…

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